Título: Jobim: divergências com militares acabaram
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Fonte: O Globo, 03/09/2007, O País, p. 5

PT, no entanto, cobra abertura de arquivos da ditadura, e Dirceu chama de infeliz nota divulgada pelo Exército.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. À vontade entre os comandantes militares na solenidade de troca da bandeira, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que as divergências entre ele e grupos militares em torno do livro "Direito à memória e à verdade", produzido pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, já foram superadas. A publicação do livro, um relato sobre casos de tortura e morte de militantes de esquerda durante a ditadura, teve apoio de Jobim, mas desagradou a setores militares. Jobim deixou claro, porém, que o governo não vai propor mudanças na lei da anistia para facilitar a punição de ex-torturadores, como querem grupos ligados aos direitos humanos.

- Revisão da lei, não. Mas poderá haver uma discussão judiciária. Mas esse é um problema do Judiciário. Não compete a mim emitir opinião - disse Jobim, após participar do evento na Praça dos Três Poderes.

O governo enfrentará agora outra cobrança: a do PT, que quer a abertura imediata dos arquivos da ditadura militar. Uma moção aprovada ontem no 3º Congresso Nacional do PT pede a revogação da Medida Provisória 228, de 2004, que institui o "sigilo eterno" de alguns documentos. "Já há decisões judiciais ordenando a abertura dos arquivos militares do período, decisões essas desrespeitadas tanto pelo governo quanto pelas Forças Armadas. O governo Lula comprometeu-se a abrir tais arquivos, mas até agora não o fez", diz a moção.

O texto critica a postura da cúpula militar. "É inaceitável que alguns generais em postos de comando continuem a fazer manifestações em defesa da ditadura". O ex-ministro José Dirceu engrossou o coro e, em seu blog, criticou nota divulgada sexta-feira pelo Alto Comando do Exército, sobre o livro. Ele classificou de infeliz a nota, segundo a qual "a Lei da Anistia produziu a indispensável concórdia de toda a sociedade", e que "colocar (a discussão) em questão importa em retrocesso à paz e à harmonia nacionais". Dirceu afirmou que "não cabe ao Exército -- submetido ao poder civil (...) - dar opiniões políticas, como instituição".