Título: Despesas no período passam de R$300 bi
Autor: Duarte, Patrícia e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 03/09/2007, Economia, p. 15
No campo acadêmico, há opiniões semelhantes sobre a trajetória dos juros. Para o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, se a Selic tivesse recuado mais, o país poderia até estar registrando déficit nominal zero. Ou seja, as receitas seriam suficientes para bancar os gastos do setor público e os juros das dívidas que, sozinhos, consumiram R$304,426 bilhões nestes dois anos. Hoje, no entanto, o déficit nominal está na faixa de 2,08% do PIB.
-- É o mesmo que ter uma torção de joelho e tomar uma overdose de antiinflamatório que altere toda a corrente sangüínea -- compara o professor, que lançará um livro sobre a política econômica do governo Lula em duas semanas, com o colega Luiz Filgueiras.
Gonçalves defende que a política monetária não seja feita só por meio de juros, com atuação mais forte do BC via outros instrumentos - como o depósito compulsório dos bancos, a taxa de redesconto (usada para empréstimos interbancários) e outros mecanismos de redução do crédito.
Na avaliação do professor da Unicamp Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o BC acertou muito mais do que errou nesses últimos anos. Mas ele avalia que foram cometidos dois deslizes de atuação que, a seu ver, impediram que a Selic estivesse, hoje, mais baixa.
Ele acredita que, entre 2004 e 2005, o BC se precipitou ao decidir-se por uma elevação de juros. A inflação subia àquela altura, admite, mas era uma alta de preços passageira, motivada pelas commodities. Outro equívoco, diz ele, foi a redução, de 0,5 para 0,25 ponto, da magnitude de corte no início deste ano, quando o Brasil experimentava expansão da atração de capitais de curto prazo:
- Foi como dizer: "Venham para o Brasil!". O custo foi acentuar a valorização do real, que prejudica o setor exportador. (Patrícia Duarte e Henrique Gomes Batista)