Título: Ministros divididos sobre Dirceu e Gushiken
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 02/09/2007, O País, p. 10

Divergências surgiram quando STF analisou acusações contra os dois ex-integrantes do núcleo duro do governo.

BRASÍLIA. Ao transformar em réus os 40 indiciados pela Procuradoria Geral da República na denúncia do mensalão, os integrantes do Supremo Tribunal Federal mantiveram todos os 112 votos do relator do caso, Joaquim Barbosa. Apesar do resultado, uma observação do mapa de votação mostra que as divergências afloraram quando a Corte analisou imputações contra os dois acusados que participaram do núcleo duro do governo no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: os ex-ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica.

Em ambos os casos, dois ministros protagonizaram as discussões em plenário. Empossado em fevereiro do ano passado, Ricardo Lewandowski advogou, solitário, a rejeição da denúncia contra Dirceu por formação de quadrilha, e liderou outros três colegas que tentaram livrar Gushiken da acusação de peculato (desvio de verbas públicas) no caso Visanet. No STF desde junho de 2003, Cezar Peluso atuou em dobradinha com Barbosa para defender a aceitação das denúncias contra os petistas.

Nomeados por Lula, Lewandowski e Peluso chegaram ao STF pela mesma via: o Tribunal de Justiça de São Paulo. A disposição das poltronas no plenário da Corte - em ziguezague, por ordem de antigüidade - fez com que os dois sentassem na mesma fileira, um de cada lado do relator.

No terceiro dia de debates, a dupla desempenhou papéis decisivos na disputa mais acirrada do julgamento - a acusação contra Luiz Gushiken, aceita por seis votos a quatro. No saldo das cinco sessões, Lewandowski foi quem mais divergiu de Joaquim Barbosa: 13 vezes. Peluso acompanhou todos os votos do relator, assim como Cármen Lúcia, Marco Aurélio Mello e a presidente Ellen Gracie.