Título: Presidente defende consulta a aliados sobre escolha de candidatos
Autor: Freire, Flávio e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 02/09/2007, O País, p. 3

Lula diz que outros partidos da base têm legitimidade para lançar nomes.

SÃO PAULO. Em seu discurso no 3º Congresso Nacional do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado ao partido, ao antecipar o debate sobre a sucessão em 2010. Lula alertou para a importância de se ouvir a base aliada sobre as futuras escolhas:

- O PT e seus aliados têm nomes e sobretudo idéias e legitimidade para ter a candidatura própria e chegar com força às eleições municipais de 2008 e às eleições (presidenciais) de 2010. Será necessário que o PT aprofunde seu debate político, reforce relações com os movimentos sociais e apóie de modo criativo o governo.

Ontem à noite, estava prevista a entrada em pauta da posição do PT nas próximas eleições. Há quem defenda a candidatura própria, posição contrária à do Construindo um Novo Brasil (antes chamado Campo Majoritário), grupo do presidente, que não quer criar atrito com a base aliada do governo já escolhendo candidato.

O presidente voltou a criticar a cobertura da imprensa sobre o PT e, em seu discurso, pediu paciência e equilíbrio aos petistas quando virem estampadas nos jornais informações contra o partido.

- O PT precisa aprender uma lição. Os nossos deputados, o presidente e nossos governadores, a gente não pode ficar abalado com cada vez que sai uma manchete contra o nosso partido. Até porque eles só falam de nós porque eles sabem que não é fácil, em 27 anos, construir um partido e chegar à Presidência - afirmou Lula.

Embora tenha apelado à militância, Lula se disse sereno:

- Nunca vivi um momento de tanta tranqüilidade.

Assim que chegou ao congresso, ontem de manhã, ele foi aplaudido de pé. Sentou-se no centro da mesa, cercada por dirigentes petistas e oito ministros. De um militante, recebeu de presente uma bandeira do Brasil, que enrolou no pescoço, improvisando um cachecol. O discurso de Lula foi dividido entre improvisos e leitura de textos em dois teleprompters instalados no palco.

Ao fim do discurso, o presidente voltou a atacar as elites.

- A minha prioridade é colocar comida na mesa do povo. É fácil para quem toma café da manhã, almoça, janta ou gasta numa só dose de uísque o que o pobre não tem para comer, achar que estamos gastando com o povo. Não é um gasto. É investimento. O que estamos fazendo é investir no povo.

Se, na militância, a defesa pública do presidente Lula aos envolvidos no caso do mensalão foi recebida com aplausos, entre figuras do primeiro escalão do governo a solidariedade aos companheiros é ainda envergonhada. Publicamente, ninguém dentro do partido assumiu posição favorável a um ato de desagravo ou a moção de apoio aos chamados mensaleiros durante a realização do congresso. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse concordar com Lula, mas argumentou que o congresso petista não é o fórum adequado para discutir esse tipo de tema. (Flávio Freire e Maiá Menezes)