Título: Lula pede apoio do PT a réus
Autor: Freire, Flávio e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 02/09/2007, O País, p. 3

Presidente fala do mensalão e diz que ninguém tem mais ética e moral que os petistas.

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva - que há dois anos disse ter sido traído por petistas, ao se referir ao escândalo do mensalão - ontem mudou de tom e fez um discurso veemente aos militantes do partido, pedindo apoio aos companheiros tornados réus semana passada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em um discurso de uma hora, durante o 3º Congresso Nacional do PT, Lula pediu solidariedade do partido com os processados por corrupção e formação de quadrilha e afirmou que nenhum dos acusados de integrar o esquema de compra de votos foi ainda condenado. Portanto, segundo o presidente, todos têm direito de se defender.

Em sua fala, presenciada por aliados como o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu e o ex-deputado Paulo Rocha - dois dos 40 que respondem ao processo no STF -, Lula disse ainda que ninguém tem mais autoridade moral e ética do que o PT.

- Podemos ter cometido erros e estão sendo apurados como precisam ser. Mas ninguém tem mais autoridade ética, moral e política como o nosso partido. Tem gente igual a nós, mas não admitimos que tenha melhor - afirmou Lula.

O presidente pediu aos petistas que não desanimem por causa das acusações contra os petistas:

- O importante é que nada que nos aconteça pode nos esmorecer. Não temos o direito de nos sentir derrotados, qualquer que seja a adversidade que enfrentemos. E o mais importante: nenhum petista tem que ter vergonha de defender um companheiro - disse Lula, frisando que os acusados, a quem chamou de companheiros, não podem ser tratados como culpados:

- Saio desse congresso com a alma lavada. Sabendo que alguns companheiros nossos foram indiciados pela Suprema Corte Brasileira. Mas eu queria que os petistas tivessem em mente uma coisa: até agora, nenhum deles foi inocentado, mas também nenhum deles foi culpado. E somente esses companheiros, nem eu nem vocês, sabem o que aconteceu. Eles terão tempo para se defender. Aqueles que ficarem provados os erros, pagarão. E os que não tiverem errado, serão inocentados. O que é importante é que uma luta não se faz sem dor e sofrimento. Mas nós aprendemos que pessoas tiveram que morrer para consolidar a democracia brasileira.

Lula alerta contra tsunami da oposição

Com o discurso de ontem, Lula evitou o risco de o tema do mensalão aparecer em atos de desagravo no congresso, que termina hoje em São Paulo. Em tom de alerta à militância, Lula afirmou que o PT deve ficar atento aos adversários nas próximas eleições. Num mea-culpa, disse que ele mesmo já fez parte de uma oposição sem discurso e frisou que o PT deve se preparar para os ataques dos quais a legenda deverá ser vítima na campanha por sua sucessão, em 2010.

- É preciso que a gente fique alerta porque eles não vão nos deixar nadar em águas tranqüilas o tempo todo. É preciso que estejamos preparados para os tsunamis que virão. Já fui oposição sem discurso. Eu sei como é ficar desesperado para tentar encontrar a palavra mágica - disse Lula.

Ainda ao tratar dos réus no processo do mensalão, Lula disse que, na política, não se pode "perder a sensibilidade e o companheirismo". Afirmou que a solidariedade que diz ter recebido do PT foi fundamental para que tomasse a decisão de "voltar a ser o Lula de sempre", quando deixar o governo. Ele ressaltou que o PT nasceu para ser governo e não oposição.

- É preciso muito companheirismo, muita garra e muita solidariedade - afirmou o presidente.

Lula exortou os petistas a não se acovardarem diante das críticas e pediu que os companheiros exibam, com orgulho, os símbolos petistas.

- O PT não pode se acovardar nesse debate. O PT não tem por que se envergonhar. Não tenham medo de ser petistas e andar com a estrela no peito. O PT é responsável pelos passos largos que o Brasil está dando rumo ao progresso e à justiça - disse Lula.

O PT aprovou ontem uma resolução em que pede à Procuradoria Geral da República que agilize a denúncia contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB), acusado de usar o valerioduto para drenar recursos de caixa dois para sua campanha ao governo de Minas Gerais, em 1998.

* Enviada Especial

COLABOROU Ricardo Galhardo