Título: MP comprova que conta em Miami foi movimentada
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 02/09/2007, O País, p. 15

Duda disse que não mexeu na Dusseldorf e foi desmentido.

BRASÍLIA. No depoimento à CPI, que acaba de completar dois anos, Duda Mendonça também disse nunca ter movimentado a Dusseldorf. Neste ponto, é categoricamente desmentido pelo Ministério Público. Dados obtidos na quebra do sigilo da conta da off-shore no BankBoston de Miami, enviados pelo governo dos EUA, mostram que, em menos de um ano (entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004) já haviam saído da Dusseldorf US$3,6 milhões.

A bolada foi distribuída para nove contas, seis delas sem identificação. A suspeita é de que sejam de parentes de Duda e de outras empresas dele. O advogado de Duda, Tales Castelo Branco, diz que o "esquecimento" de seu cliente tem pouca importância para a investigação.

- Se o dinheiro é dele, e foram pagos os tributos (Duda gastou mais de R$4 milhões para pagar impostos sonegados), pode fazer o que quiser com ele. Considero que isso é irrelevante - diz Castelo Branco.

À CPI e ao MP, Duda também disse que apresentaria todos os extratos da Dusseldorf. Mas a papelada só mostra a origem de US$1,6 milhão dos R$10 milhões pagos a ele pelo PT. O advogado assume a culpa pela promessa descumprida:

- A minha orientação foi para que ele não entregasse (os papéis). Ninguém está obrigado a fazer prova contra si próprio.

A maior parte do que foi identificado (cerca de U$1 milhão) veio do Trade Link Bank, uma off-shore que pertence aos mesmos donos do Banco Rural, instituição pela qual circulou quase todo o dinheiro pago aos mensaleiros. Além das contas CC5, o Ministério Público afirma que Duda utilizou doleiros para enviar dinheiro para o exterior.

Os dados bancários disponíveis da Dusseldorf mostram que pelo menos US$269,9 mil foram depositados pela GD Corporation, que pertence a Glauco Diniz Duarte, doleiro de Belo Horizonte. A investigação revela as digitais de Marcos Valério. Antes dos depósitos na Dusseldorf, Valério também recebeu verba de empresas do doleiro no Brasil.

Um documento também liga a GD Corporation ao Banco Rural. Trata-se do relatório "Know your Costumer" ("Conheça o seu cliente"), exigido pelo BAC Flórida Bank de todos os seus clientes antes da abertura de contas. No documento da GD, a assinatura apresentada pela empresa como referência é a de Fernando Toledo, diretor do Rural International, filial do Banco Rural com sede na Flórida.

O MP já sabe que Duda movimenta dinheiro no exterior desde 1998, e levanta suspeitas de que ele seja o dono da conta em nome da Neuhaus Company Limited, off-shore das Ilhas Cayman. Essa conta recebeu do Trade Link Bank depósitos de US$3 milhões no banco em que a Dusseldorf tem conta, em Miami. Um detalhe observado pelos investigadores: as duas contas tem nomes de cidades alemãs.