Título: Duda mentiu à CPI sobre contas, diz inquérito
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 02/09/2007, O País, p. 15

Investigação do MP mostra que publicitário movimentava dinheiro em paraísos fiscais há pelo menos dez anos.

BRASÍLIA. A decisão do Supremo Tribunal Federal de transformar em réus os 40 denunciados do mensalão mal havia sido anunciada e o publicitário Duda Mendonça já sentia seus efeitos. Ele falava terça-feira a universitários de São Paulo, quando foi interrompido aos gritos de "mensaleiro" e "petista ladrão". Duda reagiu dizendo-se vítima de sua tagarelice: "Aprendi que não vale a pena falar a verdade". Mas o inquérito mostra o contrário. Segundo as investigações, o publicitário mentiu e omitiu informações ao confessar à CPI dos Correios que recebera no exterior R$10,5 milhões em pagamento por serviços prestados ao PT.

No depoimento, o publicitário contou que abriu a empresa off-shore Dusseldorf, nas Bahamas, por orientação do PT e do empresário Marcos Valério. Mas as investigações do Ministério Público acusam Duda de realizar, por vontade própria, uma intensa movimentação financeira em paraísos fiscais há pelo menos dez anos. Laudo técnico que fará parte do processo do mensalão levanta suspeitas sobre R$373 milhões que passaram pela conta da Duda Mendonça e Associados, no BankBoston, no Brasil.

Segundo a perícia, o dinheiro deixou a conta da empresa em operações ocultas, em 2004 e 2005. Seus beneficiários não estão identificados porque, segundo o MPF, o BankBoston não prestou as informações. Mas os investigadores dizem que os rastros apontam para a off-shore Nassau Branch of BankBoston, ligada ao banco, e daí para as contas de Duda no exterior. Parte do dinheiro teria deixado o país pela conta CC5 do Nassau Branch.

"A descoberta agora desses R$373,0 milhões movimentados no BankBoston entre 2004 e 2005 reforçam, ainda mais, as suspeitas de que a conta da empresa Duda Mendonça e Associados, mantida no BankBoston, operou livremente dentro daquela instituição financeira, possivelmente em compasso justamente com a conta CC5 (...) do Nassau Branch", diz o relatório.