Título: O caos continua, 40 dias após Jobim assumir
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 04/09/2007, O País, p. 8

Passageiros ainda enfrentam atrasos, especialmente em Congonhas, com reflexos em outros aeroportos.

SÃO PAULO. Passados 40 dias da posse do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que assumiu prometendo pôr fim aos caos no sistema aéreo, o Aeroporto de Congonhas ainda apresenta problemas que afetam, e muito, a vida dos passageiros. A pista principal continua operando em condições precárias. Ontem, foi interditada duas vezes por causa da chuva. À tarde, fechou por uma hora e meia e foi reaberta por volta de 18h.

Uma hora depois, voltou a chover e novamente pousos e decolagens foram realizados apenas na pista auxiliar, atrasando vôos também em outros aeroportos do país. Até 20h30m, a pista não havia sido reaberta. No domingo, também por causa da chuva, a pista principal foi interditada por 11 minutos.

Embora não haja registro de filas em check-in ou salas de embarque, passageiros continuam enfrentando dificuldades. A principal reclamação se deve aos atrasos. No balcão da Gol em Congonhas, 11 passageiros tentavam embarcar ontem para Uberlândia (MG). O grupo, que deveria ter deixado o Aeroporto Antônio Carlos Jobim, no Rio, às 9h15m, saiu com cerca de duas horas de atraso e, em vez de ir para Cumbica, de onde seguiriam para Uberlândia, o vôo foi para Congonhas. O grupo, que previra chegar à cidade mineira às 13h, não tinha, às 14h30m, a confirmação de quando seguiriam para seu destino.

- O caos nos aeroportos não acabou. Essa tranqüilidade que a gente vê é uma falsa impressão - disse o inspector regional de crédito Ricardo Castro.

Perto das 15h, um funcionário da Gol improvisou um sorteio para incluir pelo menos três dos 11 passageiros num vôo de outra empresa.

- Temos que contar com a sorte, já que não há responsabilidade do governo ou das companhias. O mais grave é que a confusão começou no Galeão, e a empresa, para evitar mais tumulto no Rio, decidiu nos desovar em Congonhas, sem qualquer explicação - disse Castro, que só deveria deixar Congonhas no início da noite, e ainda não havia recebido voucher de alimentação, como prevê a lei.

A companhia informou que o vôo foi para Congonhas por razões meteorológicas, que pagou a alimentação aos passageiros e todos embarcariam à noite.

Ontem, 20% dos vôos cancelados

Em razão dos freqüentes atrasos, funcionários da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) começaram ontem uma fiscalização no atendimento prestado pelas companhias aos passageiros, tanto em Congonhas e no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, como nos terminais do Galeão, no Rio, e Juscelino Kubitschek, em Brasília. A direção da Anac diz que a operação vinha sendo articulada desde antes da crise aérea.

Desde o acidente com um avião da TAM em 17 de julho, a Anac proíbe o uso da pista principal em dias de chuva, enquanto não termina o grooving - ranhuras que criam atrito e ajudam na frenagem das aeronaves. A previsão da Infraero é terminar a obra em 15 dias.

Até o fim da tarde de ontem, Congonhas acumulava 11 atrasos de mais de uma hora em 193 vôos programados, e 38 vôos foram cancelados (20% do total). Em Cumbica, 24 dos 155 vôos atrasaram e quatro foram suspensos. No domingo, um problema num avião da LanChile também paralisou as operações em Cumbica, por 30 minutos. A LanChile não informou qual foi o problema. O avião foi rebocado para a oficina.

A Anac acumula 12 mil reclamações não apuradas desde 2006. No primeiro semestre, aplicou 115 multas às companhias aérea por atrasos, overbooking e mau atendimento. Dessas, apenas três foram pagas.