Título: Para aliados, resolução do PT é jogo de cena
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/09/2007, O País, p. 10

Partidos da coligação governista desconfiam que a decisão visa somente a manter a governabilidade de Lula.

BRASÍLIA. Partidos da coligação governista estão cautelosos com a resolução do PT que diz que a legenda quer dirigir a sucessão de Lula em 2010, mas admite a possibilidade de a legenda apoiar um candidato de outra sigla. A resolução foi aprovada no 3º Congresso Nacional do Partido, no fim de semana, em São Paulo. Para aliados, a decisão é dúbia e está mais próxima de um jogo de cena para manter a governabilidade até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que de uma verdadeira intenção de abrir mão da candidatura própria.

- Esta é uma decisão dúbia. Fica transparente que o PT vai ter candidato, mas deve apresentar o nome aos partidos que apóiam o governo. Acho muito difícil o PT não ter candidato - advertiu Renato Rabelo, presidente do PCdoB, aliado histórico do PT e que não tem, a princípio, candidato a presidente.

No PMDB, a posição também é de desconfiança. Para o líder do partido na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), a resolução do PT é só para facilitar o entendimento com os partidos no Congresso.

- Esta decisão é muito mais um jogo de cena do PT para criar um ambiente favorável na base aliada - observou Henrique Alves.

Mesmo com a constatação de que o PT pode não cumprir o que escreveu, alguns aliados consideram que já foi um avanço o partido admitir uma discussão em torno de outro nome. Todos lembram, no entanto, que o PT avançou por uma questão pragmática: sem um nome forte e natural, como Lula, os petistas terão que costurar nova candidatura entre os partidos governistas.

- Com essa decisão, o PT colabora na unidade dos partidos para as eleições de 2008 e para a sucessão de 2010. O PT emite um sinal de que, pela primeira vez, vai debater em pé de igualdade, sem arrogância ou autoritarismo - reconhece o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES).

Avaliação semelhante foi feita no núcleo do PP.

- O PT fez um gesto de educação política e mostrou que está pronto para discutir o problema - disse o senador Francisco Dornelles (PP-RJ).