Título: Promotor assassino é afastado mas mantém salário
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 04/09/2007, O País, p. 11

Por unanimidade, Conselho Nacional do Ministério Público suspende reintegração de Schoedl, que ganha R$10,8 mil.

BRASÍLIA. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), órgão que faz o controle externo das atividades da categoria, afastou ontem de suas funções o promotor Thales Ferri Schoedl, réu confesso do assassinato de um estudante em Bertioga, São Paulo. Por unanimidade, o colegiado suspendeu a decisão do Ministério Público de São Paulo que, na quarta-feira passada, havia determinado a reintegração do promotor ao cargo. O conselho abriu procedimento administrativo para investigar o caso e decidirá se o promotor tem ou não direito a tomar posse - e, com isso, ganhar até o fim da vida salário de R$10,8 mil. Até o conselho bater o martelo, Schoedl terá o dinheiro garantido todo mês em sua conta.

Schoedl confessou ter matado Diego Mondanez dias antes do réveillon de 2005, em um luau. Ele alegou legítima defesa, afirmando que a vítima e um amigo teriam assediado sua namorada. Mondanez morreu atingido por 12 tiros. O outro rapaz, Felipe Siqueira Cunha de Souza, foi ferido, mas sobreviveu.

As famílias das vítimas comemoraram a decisão:

- É uma vitória, porque a gente viu tanta coisa errada, tanta impunidade. De repente alguém se sensibilizou e viu que havia algo errado - disse o pai de Diego, o ex-jogador de basquete Fábio Mondanez.

- As coisas ainda não estão como a gente quer, mas pelo menos foi dado um passo - disse Célia Siqueira, mãe de Felipe.

Quando ocorreu o crime, Schoedl tinha entrado na carreira havia pouco tempo e era promotor substituto. Depois de dois anos em estágio probatório, conquistou o direito de tomar posse no cargo. No entanto, o Ministério Público de São Paulo decidiu que Schoedl não poderia assumir, por causa do crime, e demitiu o promotor em 2005. Schoedl recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo, que determinou sua recondução ao cargo em 2006.

Promotor pediu férias e adiou a posse, marcada para ontem

Com isso, o promotor voltou a ter direito ao salário. Mas continuou afastado das atividades, aguardando decisão do órgão disciplinar do Ministério Público estadual. Na quarta-feira passada, o colegiado resolveu reintegrá-lo à carreira.

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho, comemorou a decisão do CNMP. Ele defende que Schoedl perca definitivamente o direito de assumir o cargo. Com isso, o promotor perderá a prerrogativa de foro, e o crime seria julgado não mais pelo Tribunal de Justiça do estado, mas pelo júri popular.

- Defendemos que ele seja excluído da carreira e julgado como qualquer cidadão, perante o Tribunal do Júri da cidade em que cometeu o homicídio - disse Pinho.

Para ele, o órgão disciplinar do Ministério Público não deveria ter determinado a recondução do promotor.

- Os mecanismos internos de controle falharam. Neste termos, (é importante) o controle externo exercido pelo CNMP - observou.

A posse de Thales Schoedl na promotoria de Jales, a 585 quilômetros de São Paulo, para onde foi transferido, estava marcada para ontem. No entanto, na sexta-feira passada, o promotor pediu um mês de férias para se esquivar da polêmica.