Título: Corrêa: PF vai reduzir publicidade em operações
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 04/09/2007, O País, p. 12

Novo diretor assume e diz que a instituição não divulgará imagens de presos algemados, mas resistirá a pressões.

BRASÍLIA. Ao tomar posse no comando da Polícia Federal, o delegado Luiz Fernando Corrêa afirmou ontem que, a partir de agora, a PF deverá reduzir a publicidade das grandes operações de combate à corrupção, principalmente a divulgação de imagens de presos algemados ou encolhidos em camburões. A mudança de procedimentos tem sido cobrada por políticos e, sobretudo, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Corrêa disse, no entanto, que a PF não cederá a pressões políticas e que continuará promovendo o combate à corrupção em larga escala:

- O destaque da atuação da PF não deve ser necessariamente uma imagem e sim o conteúdo, a prova da prisão. Mais do que uma pessoa jogada num camburão, o conteúdo é que deve ser o impacto da investigação - disse Corrêa.

A preocupação do Ministério da Justiça e da cúpula da PF em destacar a mudança no perfil da divulgação das operações policiais marcou a solenidade. Tarso, que fala sobre o assunto com freqüência, reafirmou que a PF diminuirá o grau de exposição dos investigados. Ao final da solenidade, o ex-diretor Paulo Lacerda até entregou a Corrêa um novo manual de procedimentos, com as regras a serem seguidas a partir de agora. O documento prevê restrições sobre o uso de algemas e transporte de presos, entre outras normas.

- Todas as mudanças de procedimento serão para aperfeiçoar o trabalho da Polícia Federal. Já existe um pouco mais de cuidado com a exposição das pessoas, mas não haverá nenhum tipo de redução nas ações da PF - afirmou Tarso Genro.

Corrêa anuncia substituição de todos os diretores da PF

Para Corrêa, o novo estilo é uma exigência da sociedade:

- Hoje a sociedade quer que se combata o crime com rigor por parte do Estado e sem exageros em termos de agressão às liberdades e a procedimentos desnecessariamente agressivos.

Durante a posse, Corrêa anunciou a substituição de todos os diretores setoriais da PF. Entre os delegados substituídos estão o ex-diretor-executivo Zulmar Pimentel e o ex-diretor de Inteligência Renato da Porciúncula. Os dois entraram em choque durante a Operação Navalha. A partir da investigação da Divisão de Contra-Inteligência, Pimentel chegou até a ser afastado do cargo por 60 dias, por ordem do Superior Tribunal de Justiça. Lacerda saiu em defesa de Pimentel, mas não pôde evitar o desgaste dos auxiliares.

Corrêa disse que decidiu anunciar logo a troca de todos os diretores para evitar especulações. Segundo ele, a decisão diminuiria a possibilidade de disputas de cargos e novas brigas internas. O novo diretor-executivo da PF, Romero Lucena, disse que a PF deverá intensificar o combate à violência urbana, num reforço à atuação das policiais estaduais. A idéia é aproveitar a experiência das grandes operações contra a corrupção para enfrentar a onda de assassinatos:

- O modelo das grandes operações será usado para atacar os crimes contra vida.

Emocionado com o retorno à PF, Corrêa negou que sua indicação para o cargo tenha caráter político. Disse que não é filiado e não tem ligações com partidos políticos. O delegado sustenta que chegou ao comando da PF a partir de sua atuação na Secretaria Nacional de Segurança Pública. Antes disso, ele era o chefe da Missão Suporte, o novo serviço de inteligência da PF no Rio de Janeiro.

Delegados e agentes lotaram o auditório para acompanhar a posse de Corrêa. O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos compareceu ao evento.