Título: Linhas desocupadas
Autor: França, Mirelle de
Fonte: O Globo, 04/09/2007, Economia, p. 21

Com avanço de celular e banda larga, terminais de telefonia fixa sem uso já são 6,7 milhões.

Oexcelente desempenho da telefonia móvel e o crescimento da banda larga no país estão levando o usuário a abrir mão, ano após ano, de um produto que, até a privatização da Telebrás, em 1998, era considerado quase um artigo de luxo. O nível de linhas ociosas entre as concessionárias de telefonia fixa, como Oi (ex-Telemar), Telefônica e Brasil Telecom, alcançou 6,7 milhões em julho deste ano. O volume supera o recorde de 6,1 milhões de terminais sem dono entre as concessionárias registrado em 2002. Naquela época, no entanto, especialistas apontavam a corrida para antecipar as metas de universalização do serviço como responsável pelo excesso de ociosidade: a explosão de oferta esbarrou numa demanda tímida, em virtude da baixa renda da população que passou a ser atendida.

O acirramento da concorrência na telefonia fixa local, até pouco tempo praticamente inexistente, também pode explicar o aumento das linhas ociosas entre as ex-estatais. Boa parte dos usuários está migrando para as concorrentes, principalmente as autorizatárias (entre elas, as antigas empresas espelho), que ganharam força nos últimos tempos, como o Net Fone Embratel. Enquanto o aumento total das linhas fixas ociosas em 2006 - incluindo as autorizatárias - foi de 15,8% em relação ao ano anterior, somente entre as concessionárias, o percentual ficou em 37,45%.

- Ao olharmos os dados globais e os das concessionárias apenas, a comparação reflete que há competição no setor - afirmou o superintendente de serviços públicos da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Gilberto Alves.

Assinatura afasta consumidores

Para a Anatel, o país está seguindo uma tendência mundial, que leva a uma migração cada vez maior para a telefonia móvel e a oferta de serviços convergentes: telefonia fixa, móvel, além de banda larga e TV por assinatura num mesmo produto.

- O decréscimo é esperado. As pessoas buscam usufruir do que é mais conveniente - disse Alves, sem descartar que a barreira da renda é uma característica importante no mercado brasileiro.

A questão da renda se traduz no perfil do usuário de telefonia celular. Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, lembra que o país tem um dos maiores índices de telefones pré-pagos do mundo: dos 108,5 milhões de celulares em uso no Brasil, mais de 80% são desse tipo. Ele recorda, ainda, que até pouco tempo o consumidor tinha duas linhas em casa, uma para falar e outra para acesso discado à internet. Hoje, com a presença cada vez maior da banda larga - cujos acessos saltaram de 4,3 milhões, no início do ano passado, para 6,4 milhões, no segundo trimestre de 2007 - pelo menos uma delas foi desligada.

- Uma das principais razões para o desligamento é que o consumidor não quer se comprometer com assinatura - frisou o analista do Yankee Group, Julio Puschel.

As empresas já têm suas estratégias para enfrentar as mudanças. De acordo com o diretor de Marketing da BrT, Ricardo Souto, a saída são os planos alternativos:

- Em 2006, 36% da nossa base de clientes de telefonia fixa eram de planos alternativos (que não têm assinatura básica). Em julho de 2007, eles subiram para 46%.

O analista Felipe Cunha, da Brascan, afirma que tem crescido a participação de planos alternativos nas receitas das empresas:

- A tendência é a participação da receita de voz das fixas se reduzir e perder espaço para dados, telefonia celular e a TV por assinatura.

Mas a expectativa é de estabilização do aumento das linhas ociosas:

- Esse mercado ainda tem potencial de crescimento, devido, entre outras coisas, ao aumento da renda de uma parcela da população.

José Ramon, o DJ Tubarão, já desistiu do telefone fixo em casa e no trabalho:

- É muito mais fácil para as pessoas me encontrarem.

COLABOROU Felipe Frisch