Título: Mercado aposta em corte menor da Selic. Taxa deve fechar 2007 em 11%
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 04/09/2007, Economia, p. 22

Projeção para 2008 também é revisada, para 10%, diz pesquisa do BC.

BRASÍLIA. Às vésperas de o Banco Central (BC) se reunir novamente para decidir sobre os juros, o mercado revisou suas projeções para a política monetária e acredita que o ciclo de dois anos de redução da taxa básica será interrompido mais cedo do que se imaginava. A previsão média para o fim de 2007, segundo o boletim Focus divulgado ontem, subiu de 10,75% ao ano para 11%. Para 2008, a expectativa é que a Selic encerre a 10%, contra 9,75% estimados até a penúltima semana de agosto.

Como os analistas são praticamente unânimes em estimar que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará amanhã uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros, levando a Selic a 11,25% ao ano e diminuindo o ritmo dos dois encontros anteriores, na prática, o mercado acredita que só haverá mais um corte até o fim do ano. Até então, esperavam-se dois.

Especula-se que a maior causa da mudança de rumo seja a recente pressão inflacionária, desencadeada pela alta nos preços dos alimentos, além do maior crescimento da atividade econômica. Mas a crise financeira internacional não ficaria de fora dos eventos que contribuiriam para a cautela.

- O ambiente teoricamente mais volátil tende a deixar o BC mais conservador - resume o economista sênior da Unibanco Asset Management José Luciano Costa.

Decisão sobre corte vai rachar Copom, diz analista

Como os indicadores econômicos mudaram bastante desde a última reunião do Copom, em julho, há quem aposte que haverá um racha no encontro de amanhã. Desta vez, não entre duas opções de corte, e sim entre diminuir a queda e interrompê-la.

- Acho que o BC corta 0,25 ponto e pára - disse o economista-chefe da corretora Fator, Vladimir Caramaschi, argumentando que os preços das commodities vêm pressionando a inflação. Pela terceira semana seguida, o mercado revisou para cima seus cálculos do IPCA para este ano. Desta vez, passou de 3,86% para 3,92%. Para 2008, foi mantida a projeção de 4%, ambos abaixo do centro da meta do governo, de 4,50%.

Os preços, avaliam os economistas, também são pressionados pela atividade econômica mais forte. A projeção do mercado é de expansão de 4,70% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano - percentual projetado pelo próprio BC - e, em 2008, de 4,40%. A produção industrial também foi puxada para cima: de 4,64% para 4,70% em 2007.

Quanto ao câmbio, o mercado manteve a projeção de encerrar 2007 com o dólar a R$1,90, e 2008, a R$1,95.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu as críticas do "Financial Times", que publicou artigo comparando o Brasil à Holanda nos anos 1970, "quando as exportações do recém-descoberto gás natural elevaram tanto o valor da moeda que destruíram a competitividade em todo o resto da economia", no que ficou conhecido como "doença holandesa":

-- A indústria de transformação está crescendo no país a um ritmo de 5%. Não se pode falar em doença holandesa no Brasil.