Título: Renan: as próximas horas
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 07/09/2007, O Globo, p. 2

O ambiente mudou no Senado depois que o Conselho de Ética aprovou o pedido de cassação de Renan Calheiros. Reduziu-se a disposição para absolvê-lo no plenário na próxima quarta-feira, embora os defensores da cassação reconheçam não ter, ainda, os 41 votos necessários. As próximas horas serão decisivas. Muitos já defendem um acordo para que ele renuncie ao cargo, poupe o Senado de uma trombada com a opinião pública e facilite a preservação de seu mandato. Os votos começam agora a se cristalizar. Haverá certamente traições, tanto entre os que prometem lealdade a Renan como entre os que defendem a cassação apenas por temor da opinião pública. Com o voto secreto em sessão fechada, prevê-se um resultado apertado, de um modo ou de outro. Mas a proposta da renúncia, por mais que irrite Renan, deve ser considerada até à undécima hora. Ela é sempre usada como última carta, e dela só se valem os acusados em julgamentos políticos quando o jogo está claramente perdido. Assim fez Collor no processo de impeachment (embora o Senado tenha ignorado o gesto, alegando que a sessão já estava em curso), assim fizeram todos os senadores que escaparam da cassação pela renúncia.

Senadores de um lado e de outro alegavam ontem que, com a absolvição, o Senado ficaria mal com a sociedade e ainda condenado à repetição do ritual desgastante, tendo que apreciar as outras três representações já protocoladas no Conselho de Ética contra Renan. Com a renúncia ao cargo, perdendo o trono para salvar o mandato, ele teria garantias de que as outras ações não iriam prosperar.

Mas, com o voto secreto e a sessão fechada, reduzem-se as previsibilidades do voto, e com isso o poder de pressão da oposição e dos defensores da cassação. É o que pede o regimento. Já foi assim de outras vezes, mas o contexto social e político era completamente outro, por exemplo, na cassação de Luiz Estevão. Renan defendeu a fórmula ontem no Itamaraty parafraseando o ministro do STF Ricardo Lewandowski:

- Ninguém vai colocar a faca no pescoço dos senadores.

Ele nega qualquer disposição à renúncia e dissimula a irritação com o PT, pelos votos a favor da cassação no Conselho de Ética. Os recados ao governo e aliados já foram dados. Nestes mais de cem dias no pelourinho, Renan demonstrou uma resistência desconcertante para os adversários. Mas ele tinha o tempo a seu favor, ou pelo menos achava que tinha, pois as protelações pioraram sua situação, permitiram o surgimento de novas denúncias e fizeram o julgamento ocorrer no ambiente de maior exigência ética criado pelo julgamento do STF sobre o caso mensalão. Ela foi decisiva para a alteração que se verificou nas últimas horas no Senado. Agora, seu tempo pode ser contado em horas. Se não renunciar, Renan pode acabar cassado, perdendo o cargo e o mandato. Esta possibilidade agora existe, embora ele e seus aliados jurem ter os votos para ganhar.