Título: Mercado quer avaliar núcleo do índice
Autor: Gois, Chico de e Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 07/09/2007, Economia, p. 22

Análise detalhada tornaria mais claro o comportamento real dos preços.

BRASÍLIA. Com o cumprimento das metas de inflação nos últimos três anos, e todas as chances de em 2007 ser repetido o feito, o mercado já começa a discutir a necessidade de se avaliar o núcleo da inflação, e não mais o indicador fechado. Isso porque, argumentam os especialistas, acontecimentos pontuais podem ser expurgados e, assim, deixar mais evidente o comportamento real dos preços, evitando interrupções de queda ou subidas bruscas dos juros. Adotar oficialmente essa metodologia para definir novas metas de inflação, no entanto, ainda é prematuro. - Temos um histórico longo de inflação muito alta e casos até de deturpação dos números (dos indicadores de inflação) no passado. Isso causa uma certa desconfiança. Mas olhar o núcleo da inflação é extremamente importante para avaliarmos o que realmente está acontecendo - afirmou o economista da consultoria Tendências Jean Barbosa.

Em agosto, por exemplo, o IPCA fechou com alta de 0,47%, praticamente o dobro do número visto em julho (0,24%) e, segundo Barbosa, o núcleo do indicador por exclusão passou de 0,07% para 0,36% no período. Por esse índice, são retirados os preços dos alimentos (cujos preços são muito voláteis e os grandes responsáveis pela puxada atual na inflação) e os preços administrados. Assim, é possível fazer uma análise mais "limpa" do comportamento da inflação.

Método para definir metas deve se manter, diz analista

Para o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, porém, o núcleo da inflação não deve ser tomado como base para determinar as metas do governo. Isso porque seria mais complicado para a sociedade assimilar o que exatamente representam esses núcleos, que retiram algumas variáveis para seus cálculos.

- Além disso, o que pesa no bolso das pessoas é o indicador cheio - afirmou Teles.

Para este e os próximos dois anos, a meta de inflação definida pelo governo é de IPCA em 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No ano passado, o indicador fechou a 3,14%. O número é maior agora sobretudo pela pressão nos preços dos alimentos, que sobem há várias semanas no mundo todo.