Título: CVM exclui investidor de ação no caso Suzano
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 07/09/2007, Economia, p. 23

Ação por informação privilegiada na operação de compra pela Petrobras foi apenas contra a empresa uruguaia Vailly.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entrou ontem, junto com o Ministério Público Federal (MPF), com uma ação civil pública pelo uso de informação privilegiada na compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras. A ação, no entanto, tem como ré apenas a "sociedade investidora estrangeira", a oficialmente uruguaia Vailly. Ela teve os recursos da venda das ações bloqueados por medida cautelar da CVM e do MPF no dia 7 de agosto.

O investidor pessoa física que também teve recursos bloqueados pela mesma liminar, Antonio Carlos Reissmann, não foi incluído. Ou seja, terá os recursos liberados, já que a medida cautelar era preparatória para a ação, no prazo de um mês, cumprido à risca.

- Os elementos disponíveis e os fatos que ocorreram após o bloqueio tornaram desnecessária a manutenção da medida preventiva no caso desse investidor - disse o procurador-chefe da Procuradoria Federal Especializada da CVM, Alexandre Pinheiro, alertando que outros são investigados e que a exclusão do investidor não assegura que a autarquia o tenha considerado inocente.

Como o processo corre em sigilo, Pinheiro refere-se à empresa e ao investidor sem confirmar os nomes, identificados pelo GLOBO em 9 de agosto. Ele não diz quais foram os fatos novos, mas a advogada do investidor, Andrea Mendonça, do escritório Dumortout de Mendonça, relata que Reissmann procurou espontaneamente a autarquia na semana após o bloqueio para prestar esclarecimentos e apresentar documentos de sua idoneidade.

Entre os documentos estaria a confirmação - pela Bovespa e pela sua corretora, Fator - de uma ordem firme de venda das ações da Suzano dada pelo investidor às 10h31m do dia 3, por R$6,40, que não teria encontrado comprador até a suspensão dos negócios, às 12h15m. Com isso, as ações só foram vendidas no fim do dia, quando os negócios retornaram e os papéis chegaram a ser cotados a R$8,91, dando lucro de mais de 50% em um dia. Reissmann comprou as ações a R$5,80.

Andrea conta que levou ainda extratos de operações do investidor, para comprovar o perfil de suas movimentações, e dados patrimoniais para assegurar a capacidade de pagar uma indenização, sem necessidade de bloqueio. Na CVM, o investidor teve audiência com a presidente, Maria Helena Santana. Depois, voltou com os documentos e para dar depoimento sobre as operações.

- Ele queria limpar o nome o quanto antes - diz.

Ação pede indenização a investidores prejudicados

Nenhum representante da Vailly foi encontrado. Nas empresas brasileiras em que ela tem ou já teve participação - Bardella, hoje, e TIM, no passado - aparece representada por executivos ligados ao Banco Safra e sempre votando em assembléias com a família, acionista nas mesmas companhias. A empresa é apontada como compradora de ações da Suzano em 23 de julho e vendedora em 3 de agosto, com lucro de R$500 mil. A corretora do Safra intermediou a compra de 160 mil ações no dia 23 e a venda de 162.700 no dia 3.

A ação da CVM e do MPF pede indenização para os investidores prejudicados - que venderam ações para quem tinha a informação.