Título: Independência de Ciro incomoda o Planalto
Autor: Krieger, Gustavo
Fonte: Correio Braziliense, 29/03/2009, Política, p. 4

ELEIÇÕES 2010

Governo quer enquadrar pré-candidato do PSB à sucessão de Lula, que não gostou da imposição de Dilma como o nome da base aliada

Ciro Gomes: Ex-ministro da Fazenda, ele tem no discurso de economia um de seus pontos fortes e a crise é um prato cheio

Adauto Cruz/CB - 11/9/07 Eduardo Gomes: candidatura do deputado só sai se o Planalto quiser O governo iniciou uma ofensiva para enquadrar o deputado Ciro Gomes (PSB), pré-candidato do PSB à Presidência da República. A ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, teve uma conversa reservada com ele há uma semana. A sós, os dois falaram sobre os riscos da crise econômica para o Brasil. Dilma pediu a ele que não antecipasse a discussão eleitoral, para ¿evitar turbulências¿. Nos próximos dias, Ciro ouvirá o mesmo pedido de um interlocutor ainda mais poderoso: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Palácio do Planalto mantém uma relação ambígua com a candidatura de Ciro. Não sabe se ela ajudará ou atrapalhará os planos de Dilma. Caso a ministra cresça nas pesquisas e se consolide, polarizando a disputa contra o candidato do PSDB, a candidatura de Ciro pode ser útil. Ele atuaria como um aliado no debate com a oposição e ajudaria a levar a disputa para um segundo turno no qual apoiaria a candidata do PT.

Hoje, Dilma ainda luta para se consolidar e aparece abaixo de Ciro nas pesquisas. Se esse cenário se mantiver até o início da campanha eleitoral, o candidato do PSB pode atrapalhar, tirando o lugar da ministra no segundo turno.

Na dúvida, o Palácio do Planalto se mantém em posição de expectativa. Não pressiona para que ele saia do cenário, mas também não quer que ele ganhe corpo. Para isso, Lula conta com o apoio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, principal líder do PSB. Os dois conversaram na quarta-feira, em Brasília, depois do lançamento do programa de habitação do governo. Campos garantiu a Lula que o PSB só dará legenda a Ciro se isso for de interesse do governo.

Ataques Depois de perder espaço para Dilma nas pesquisas ao longo dos últimos meses, Ciro voltou à cena. Deu várias declarações criticando o esforço de Lula para impor a ministra da Casa Civil como candidata única da base governista. Distribuiu ataques tanto ao governo tucano quanto a programas de Lula. Seu movimento acendeu uma luz de alerta no Planalto e levou o governo à ação.

Além das conversas pessoais, o governo federal passou a distribuir gentilezas ao Ceará, governado pelo irmão dele, Cid Gomes (PSB). Lula e Dilma estiveram no estado para prestigiar a inauguração de dois trechos do Eixo da Integração, projeto de abastecimento de água para Fortaleza. Lá, a ministra esmerou-se em elogios à lealdade demonstrada por Ciro quando foi ministro, durante o primeiro mandato de Lula. O presidente assegurou a construção de uma refinaria no estado, antiga reivindicação do Ceará.

A crise econômica aumentou a preocupação do governo com Ciro. Ex-ministro da Fazenda, ele tem no discurso de economia um de seus pontos fortes. A crise pode ser uma oportunidade de crescimento para ele, se apostar numa linha crítica.