Título: Faca no peito
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 08/09/2007, O Globo, p. 2

Os partidos aliados se rebelaram e estão cobrando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva as prometidas nomeações para cargos de segundo escalão, na administração central e nos estados, para aprovar a CPMF na Câmara. O presidente Lula chegou a se irritar com as cobranças, na reunião com os líderes aliados, na quinta-feira, e convocou para segunda-feira uma reunião do Conselho Político.

Coube ao líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), expor o problema ao presidente Lula. Os aliados estavam simplesmente se aproveitando da necessidade do governo de aprovar a prorrogação da CPMF para exigir que as nomeações acertadas fossem efetivadas. Como explicou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), o momento é de negociação, e está todo mundo colocando suas cartas na mesa. Um dos presentes relatou que o presidente Lula não gostou do tom e deu um soco na mesa dizendo que não aceitava esse tipo de barganha nem trocaria a aprovação da CPMF por nomeações.

O representante do PR, deputado José Carlos Araújo (BA), reagiu dizendo que não se tratava de barganha, mas de deixar claro que há insatisfação na base por causa dos acordos mal resolvidos ou não cumpridos. Apesar da reação do presidente, os líderes colocaram suas posições, afirmando que havia muita resistência no governo a se adaptar aos novos tempos. O governo Lula não era mais sustentado apenas pelo PT, mas por uma coalizão de 11 partidos, entre os quais o PMDB. Os representantes do PTB e do PP afirmaram que havia uma embromação nas nomeações de indicados por outros partidos, que não o PT, e que havia uma resistência em substituir petistas, mesmo quando a decisão política já tinha sido tomada. As relações na base estão encardidas e a lavação de roupa suja foi constrangedora.

Os aliados também estão inconformados com a postura do governo, que não admite negociar concessões na emenda da CPMF na Câmara. Como todos sabem, pela dificuldade em obter maioria de 49 votos, que o governo terá de negociar no Senado, eles também querem que o acordo saia fechado da Câmara. O presidente Lula não cedeu aos apelos de sua base e pediu a todos que aprovassem a prorrogação da CPMF, pois o governo não poderia nem pensar em abrir mão de sua receita. Os líderes governistas saíram do Planalto contrariados e chupando o dedo: sem os cargos e com a porta da negociação fechada.