Título: Jobim usa desfile para mostrar que mal-estar com Exército foi superado
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 08/09/2007, O País, p. 4

7 DE SETEMBRO: "Não percebo ambiente para uma crise militar", diz Chinaglia.

Depois de ameaçar demitir generais, ministro da Defesa diz que clima é cordial.

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, tentou ontem demonstrar que está superado o mal-estar entre ele e o Alto Comando do Exército, provocado pelo lançamento de um livro do governo sobre mortos e desaparecidos na ditadura militar. O estopim de uma crise começou no último dia 29, quando o livro foi lançado no Palácio do Planalto e Jobim avisou que, se houvesse reação dos militares, haveria "resposta". Dois dias depois, o Alto Comando do Exército divulgou nota afirmando que a Lei de Anistia era soberana e havia encerrado a discussão. A nota fora negociada com Jobim, mas provocou seqüelas. Durante o desfile de 7 de Setembro, Jobim conversou longamente com os comandantes das três Forças, em especial com o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri.

Ministro posa para fotos com os comandantes

Jobim fez questão de posar para fotos ao lado do comando do Exército, para tentar demonstrar que a crise estava superada. E comentou com colegas e assessores que o clima estava mais cordial e o pior já havia passado. Segundo assessores do próprio ministro confirmaram, Jobim ameaçou demitir o comandante do Exército e os demais integrantes do Alto Comando se o teor da nota não fosse amenizado e se as reações não parassem por ali. Assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se apressaram em ligar para Jobim e para os comandantes para conferir se o mal-estar estava superado. O ministro havia ameaçado retaliar as reações ao livro, mas não teve força suficiente para impedir a divulgação da nota, apenas amenizá-la.

Já o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), depois de assistir ao desfile, disse que a tensão envolvendo civis e militares só acabará quando se esclarecer definitivamente o que aconteceu com os mortos e desaparecidos políticos da ditadura.

- Não percebo ambiente para uma crise militar, nem na sociedade e nem entre os militares. É claro que, pela nota feita há duas ou três semanas, eles ali manifestaram sua opinião dizendo que determinados temas têm mais de uma opinião a respeito. Isso está dentro dos limites. É claro que há questões como os desaparecidos. Enquanto isso não for resolvido, será uma questão pendente. A melhor maneira de encerrar essa página da História do Brasil é esclarecer tudo o que tiver que ser esclarecido.

Em certos momentos do desfile, Jobim parecia achar enfadonho o espetáculo. Ao lado da mulher, Adrienne Senna, ele se sentou muitas vezes e folheou o resumo de notícias do dia preparado pela assessoria.