Título: Novatos chegam com gás
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 09/09/2007, O País, p. 4

E trabalham para resgatar a imagem da Câmara.

BRASÍLIA. Os novatos chegaram com gás e vontade de trabalhar. E veteranos como o tucano paulista Arnaldo Madeira (que foi líder do governo Fernando Henrique Cardoso) reconhecem isso como um dos pontos altos desta legislatura. Oito novatos apareceram este ano na lista dos "100 Cabeças do Congresso". Alguns desses deputados de primeiro mandato trabalham duro para ajudar a Câmara no resgate da imagem, mas reclamam da dificuldade em exercer o que consideram a principal função como parlamentar: debater temas nacionais com profundidade e aprovar leis que ajudem o país.

- Os líderes apenas administram urgências, como médicos de UTI. Não há planejamento estratégico e quem organiza a agenda do Congresso, para o bem e para o mal, é o Executivo ou a mídia, reverberando a opinião pública - avalia o deputado Flávio Dino (PCdoB-SP).

Ex-juiz, Dino abandonou uma carreira promissora - sob protestos de toda a família que, como a maioria da população, não vê com bons olhos os políticos, segundo diz -- e elegeu-se deputado federal. Afirma que sua motivação foi o gosto pelo desafio. Chegou na Casa trazendo na bagagem conteúdo e destacou-se tanto como relator de projetos da área de segurança como da reforma política.

- Tive sorte, a agenda parlamentar me favoreceu - afirma Dino, que foi escolhido pelos pares como o 26º mais influente.

Ele dá nota 7 para esta legislatura, e afirma que irá lutar para modificar o regimento interno e dar mais racionalidade às votações.

Outro novato na Casa mas não na política, o sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, diz que sua principal virtude foi evitar a aprovação de propostas que prejudicariam os trabalhadores. Para Paulinho, a legislatura merece apenas nota 4:

- O Congresso já tem imagem negativa e ainda vota contra a maioria do povo? A única coisa boa foi aprovar a política de reajuste do salário mínimo até 2022.

Líder do PSB, Márcio França (SP) também se destacou e entrou para a chamada elite do Congresso - a lista do Diap. Ex-prefeito, ele diz que a dinâmica dos trabalhos na Casa propicia a falta de produtividade.

- Esse processo do plenário é muito ruim, deseduca. É um desperdício de horas e de cabeças. Nas comissões temáticas é onde há o aprofundamento da discussão, mas temos que nos virar para conseguir cumprir a agenda. Estamos num local, sempre pensando que poderíamos estar rendendo mais em outros - diz Márcio, que deu nota 5,5 para a legislatura.

De volta ao Congresso, dois deputados diferem da impressão sobre a nova legislatura. O ex-presidente da Casa, Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), cassado, diz que, para o bem e para o mal, não nota diferenças substanciais.

- O problema é o conjunto da sociedade. Temos que rediscutir as instituições, Congresso, imprensa, governo. Enquanto só discutirmos o Congresso, fica parecendo que só ele vai mal, o que não é verdade - avalia Ibsen, que deu nota 6 para este Congresso.