Título: Uma tropa de choque com problemas
Autor: Camarotti, Gerson e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 09/09/2007, O País, p. 8

Senadores na linha de frente de Renan só ficaram conhecidos agora.

BRASÍLIA e RIO. Torpedeado por denúncias, com a vida devassada pela Polícia Federal e pelos colegas do Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), contou nas últimas semanas com o apoio incondicional de uma inusitada tropa de choque, que não mede esforços para manter no poder seu protegido. Entre os mais ferrenhos defensores do presidente do Senado estão quatro nomes do chamado baixo clero que ganharam notoriedade ao assumir a linha de frente pró-Renan. Uns enfrentam problemas na Justiça, outros estão de olho no apoio que o atual presidente pode lhes dar nas próximas eleições.

Com atuação importante no Conselho de Ética, estão ao lado de Renan Wellington Salgado (PMDB-MG), Almeida Lima (PMDB-SE), Gilvam Borges (PMDB-AP) e Leomar Quintanilha (PMDB-TO).

Fiel escudeiro de Renan, Wellington Salgado tem uma das empresas de sua família na mira do Ministério Público do Distrito Federal. A Universidade Salgado de Oliveira (Universo), da qual o senador é presidente licenciado e comandava oficialmente até chegar ao Congresso, tornou-se ré num processo por suspeitas de irregularidades em contratos de publicidade com o Banco de Brasília (BRB). O ex-presidente do banco Tarcisio Franklin de Moura também foi denunciado pelos promotores.

Sem licitação e com base em contratos sem "nenhum critério jurídico aceitável", segundo o Ministério Público, o banco estatal pagou R$1,25 milhão para ter sua marca estampada no time de basquete da universidade, atual campeão brasileiro. Pelo menos R$900 mil desse total foram pagos a uma microempresa da qual Salgado é sócio: a Ilhota Leste Produções Artísticas. A empresa, que seria prestadora de serviços de publicidade para a Universo, não funciona atualmente nos dois endereços registrados, como constatou O GLOBO.

Em 2005, pagamentos feitos para empresa de Salgado

O processo por improbidade administrativa, que corre na 8ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal, mostra que, em 2004, a universidade conseguiu patrocínio do BRB para o time de basquete. O banco aceitou a proposta em troca de estampar sua marca nas camisetas dos jogadores, ginásios, sites, entre outros lugares. A primeira cota, de R$280 mil, foi paga diretamente à associação que controla a Universo em sete parcelas ao longo de 2004. Mas, em janeiro de 2005, na condição de presidente da associação, Wellington Salgado assinou um documento transferindo para a Ilhota Leste os direitos de exploração de imagem da equipe. De lá para cá, há registros de 13 pagamentos à empresa. Somados, os repasses chegam a R$900 mil.

No contrato social, a Ilhota tem sede em Maricá, na Região dos Lagos. Por telefone, em conversa gravada, um vigia que trabalha no local disse que a empresa está desativada há "uns oito, nove anos". Salgado contestou a informação:

- Você pegou o cara (o vigia) na hora em que os dois funcionários não estavam lá. Um, inclusive, está de férias.

Na Receita Federal, a Ilhota tem outro endereço: a sala 705 do prédio número 935 da Rua Visconde de Sepetiba, em Niterói. Na portaria do prédio, no entanto, a informação é de que a Ilhota ficaria no 13º andar. Mas lá funciona o Departamento de Planejamento Estratégico da universidade. Por telefone, Salgado disse que o departamento está sendo usado apenas para correspondência enquanto a verdadeira sede (a sala 705) passa por obras.

Salgado disse que a Ilhota foi criada para cuidar dos contratos de direito de imagem dos jogadores de basquete, trabalho que ele dissocia das atividades da universidade.

- Quando um cara saía do time, entrava com processo por questões de contrato de imagem. Isso dava trabalho - afirmou o senador, dizendo ainda que, como agência de publicidade, a Ilhota tem outros negócios e faturamento comprovado.

Sobre a falta de licitação nos contratos, Salgado afirmou ainda que, se houve algum erro, foi do BRB. O banco não se pronunciou.

Para a oposição, a defesa da tropa de choque de Renan está ligada a antigas dívidas políticas e a dividendos a serem colhidos nas próximas eleições. O senador Almeida Lima, por exemplo, recebeu as promessas de comandar o partido em Sergipe e de ser o candidato do partido nas eleições municipais de 2008. Lima foi eleito senador em 2002 com um incrível desempenho: teve mais de 300 mil votos em uma campanha que custou apenas R$20 mil (declarados), pagos do próprio bolso.

Quintanilha é da bancada da bola no Congresso

Lima nega que tenha vínculos estreitos com Renan. Diz que não chegou ao PMDB, vindo do PSDB, pelas mãos de Renan e que o defende por convicção.

- Nem Ideli Salvatti (PT-SC), que é de um partido que não aprecio e que já se digladiou comigo por um bom tempo, eu teria coragem de cassar sem provas - disse.

Outro defensor de Renan é Gilvam Borges, que já foi senador, entre 1995 e 2003, período em que chamou mais atenção por ter empregado sua mulher e sua mãe em seu gabinete. Na época, explicou-se: "Uma me pariu e a outra dorme comigo".

Leomar Quintanilha completa o grupo. Ele, que comanda o Conselho de Ética, é presidente da modesta Federação Tocantinense de Futebol e integra a chamada bancada da bola do Congresso. Em 2002, quando se elegeu, recebeu doação de R$50 mil da CBF. Quintanilha responde a inquérito desde 2005 no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime contra a ordem tributária. Ele é acusado de ter desviado dinheiro de emendas parlamentares por meio da Construtora e Incorporadora Rochedo, pertencente a seu irmão, Cleomar Quintanilha.