Título: Renan: 9 senadores ainda estariam indecisos
Autor: Camarotti, Gerson e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 09/09/2007, O País, p. 8

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Avaliação é que presidente do Senado pode ter que se licenciar, caso vitória seja apertada.

Renan: 9 senadores ainda estariam indecisos.

Aliados prevêem vitória em plenário, mas força para continuar no cargo dependerá do número de votos a favor.

BRASÍLIA. Às vésperas da votação da cassação do mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por quebra de decoro, aliados do peemedebista e senadores da oposição passaram a traçar dois cenários prováveis para o futuro do político alagoano a partir de seu julgamento em plenário, na quarta-feira. Considerando a possibilidade de ele ser absolvido em sessão fechada e com voto secreto, o Senado trabalha com dois desfechos: ele renunciar ao cargo de presidente ou permanecer no comando. Dependerá do tamanho dessa eventual vitória. Caso seja derrotado, há um receio generalizado de que o sentimento de vingança predomine no comportamento dele.

Se Renan conseguir escapar da cassação com uma boa margem de votos (entre 10 e 15 além dos votos computados pela cassação), a avaliação é que ele estará em condição política de continuar no cargo de presidente. E com um pouco mais de resistência para enfrentar os outros três processos que ainda correm no Conselho de Ética. Porém, caso ele consiga escapar da cassação, mas com uma margem apertada, ficará fragilizado, sem poder de barganha, e será forçado a licenciar-se do cargo, a princípio temporariamente, ou até mesmo renunciar à presidência do Senado.

Pelos cálculos dos próprios líderes dos partidos no Senado, Renan levava vantagem na sexta-feira. O presidente teria o apoio de 42 senadores, enquanto 31 estariam na conta dos que votarão pela cassação, e nove estariam indefinidos. É em cima desses nove senadores que os dois lados - aliados de Renan e defensores da cassação - estarão trabalhando até quarta.

Receio de que Renan revele confidências de senadores

No caso de perder a votação na quarta-feira, o quadro mudaria completamente. Neste cenário, advertem aliados de Renan, o dia seguinte será imprevisível. Há um receio grande na Casa de que ele, sem mandato, sem foro privilegiado e sem mais nada a perder, parta para a vingança contra cada um de seus inimigos, de quem coleciona muitas confidências. Tanto que o clima de animosidade no Senado já preocupa o Palácio do Planalto.

"Se escapar, ele terá que renunciar ou pedir licença"

Nos últimos dias, Renan demonstrou não estar disposto a fazer nenhum acordo enquanto não houver a votação em plenário. Mas, a esperança no núcleo do governo Lula é de que, caso ele escape da cassação, faça um gesto para distensionar o clima no Congresso. Caso resista, haverá apelo para que, pelo menos, ele tire uma licença até terminarem os demais processos que estão no Conselho.

- Se o Renan escapar, ele terá que renunciar ou pedir licença para desanuviar o ambiente - avalia o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), apontado no Senado como um dos eventuais nomes para a sucessão de Renan, caso ele renuncie.

Aliados de Renan já estão preocupados com o clima de campanha que se instalou no Senado. Além de Garibaldi, o senador Gerson Camata (PMDB-ES) costuma ser chamado de "presidente", numa referência à possibilidade de suceder a Renan. Na tropa de choque do alagoano, até José Sarney (PMDB-AP) ficou sob suspeita de cobiçar o cargo, depois que seu afilhado político, o senador Gilvam Borges (PMDB-AP), passou a defender publicamente a renúncia de Renan.

- O Renan não renuncia. Muito menos depois. Ele vai conseguir refazer o clima - aposta o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

O senador Tião Viana (PT-AC), primeiro vice-presidente e potencial herdeiro do cargo, é cauteloso. Ele sabe que pode ocupar interinamente a cadeira de presidente do Senado, ou mesmo em definitivo, caso haja renúncia de Renan. Mas reconhece que ele é habilidoso:

- O corpo-a-corpo de Renan é excelente. Sendo absolvido, ele terá condições de recuperar o clima no Senado.