Título: Ciro cumpre agenda de pré-candidato pelo país
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 09/09/2007, O País, p. 9

Deputado tem visitado estados de Norte a Sul, busca espaço da mídia regional e tenta reduzir desconfiança do PT

BRASÍLIA. De forma ainda silenciosa, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) está pondo em prática uma estratégia ambiciosa para tentar consolidar seu nome em todo o país como presidenciável em 2010. Há quatro meses, Ciro passou a viajar para todas as regiões do Brasil em encontros estaduais, numa agenda que ocupa todos os fins de semana do ex-ministro do governo Lula. Com o apoio dos partidos que integram o chamado bloco de esquerda (PSB, PDT e PCdoB), o político cearense passou a costurar intensamente a sua candidatura, apesar de não admitir publicamente a condição de presidenciável.

Mas fala e age como candidato, embora tenha alertado aos aliados que isso - falar em candidatura - pode prejudicá-lo. Sua agenda é de um pré-candidato. O estado de São Paulo virou seu alvo principal. Tem passado por lá pelo menos duas vezes por mês. E Minas Gerais, que tem visitado todos os meses, é a segunda prioridade. Na semana passada, chegou a ter um encontro com o governador Aécio Neves (PSDB-MG), no qual discutiu a sucessão de 2010.

Palestras, encontros com políticos e empresários

Nos últimos 120 dias, Ciro demonstrou ser incansável. Esteve no Acre, no Maranhão, em Pernambuco, Goiás, Tocantins, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, além de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Ceará - este último, sempre. Com o pretexto de lançar o bloco de esquerda nos estados, costuma dar palestras, animar a militância, tem encontros políticos reservados e até mesmo conversas com empresários. E, com isso, aparece, e muito, na mídia regional.

Recentemente, em São Paulo, participou de um jantar com empresários que representam parte significativa do PIB paulista. Também esteve no sindicato dos engenheiros e viajou para Franca, no interior. Ele voltou a fazer palestras pagas. Em média, são duas por mês. Ele cobra R$15 mil por cada palestra, além do desconto do imposto de renda, hospedagem, e transporte.

No Rio Grande do Sul, participou de um encontro político com mil militantes num Centro de Tradições Gaúchas de Farroupilha, enfrentando um frio de 7 graus. Em todos os eventos, Ciro é anunciado como candidato à sucessão de Lula, em 2010.

A estratégia inclui a mídia regional. O deputado cearense aproveita o espaço na imprensa local para tentar massificar seu nome nos estados, sem chamar atenção da imprensa nacional. Agora que começou a aparecer muito e percebeu desconforto no núcleo do PT, seus aliados resolveram suspender as viagens em setembro.

- O que eu tenho que entender é que o PT vai ter candidato. E o que o PT tem que entender é que eventualmente eu posso ser candidato, e teremos que estar juntos no segundo turno. Eu já fiz isso em 2002, quando apoiei Lula - disse Ciro Gomes ao GLOBO.

Ciro costuma visitar o diretório do PT em todas as cidades por onde passa. Também tem elogiado o partido nessas oportunidades para diminuir a desconfiança a seu nome:

- Costumam criticar o PT, mas temos que reconhecer: é um partido que ganhou a hegemonia na luta.

Perguntado sobra sua candidatura, Ciro é cauteloso. Diz que a eleição está muito longe, afirma que a prioridade é defender o governo Lula, mas deixa pistas preciosas de que seu desejo de ser candidato está consolidado:

- É o processo social, como dizia Brizola. Se o ambiente social pede, as coisas começam a surgir. Ciro tem procurado apoio até dos tucanos

Ciro tem costurado apoio do PSDB ao Palácio do Planalto. Tem conversado com freqüência com o presidente Lula, que recentemente externou para governadores do PT sua simpatia pela candidatura de Ciro. No ninho tucano, ele tem o apoio silencioso do amigo e presidente da legenda, Tasso Jereissati (PSDB-CE), que, num programa de televisão, se expôs publicamente ao afirmar que poderia votar em Ciro em 2010.

Outro foco tem sido o governador Aécio Neves. Na semana passada, em Belo Horizonte, Ciro declarou à imprensa local que Aécio era o favorito na disputa. No dia seguinte, num encontro com Aécio, Ciro disse que dificilmente o governador José Serra (PSDB-SP) abriria mão de ser candidato e que faria de tudo para tirar Aécio da jogada.