Título: Uso dos rios no Brasil alterna casos de desenvolvimento e de abandono
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 09/09/2007, Economia, p. 30

POTENCIAL DESPERDIÇADO: Empresários fazem pressão para escoar produção.

Experiências vão do sucesso do Rio Madeira ao fracasso do São Francisco.

BRASÍLIA. As hidrovias brasileiras vivem realidades muito diferentes, que vão do sucesso ao fracasso. Enquanto algumas estão se desenvolvendo graças à pressão dos empresários que precisam escoar suas produções, outras estão em total abandono. Há casos ainda de rios que já foram utilizados fortemente para a navegação comercial, como o São Francisco - o Velho Chico, chamado também de rio da integração nacional - e que, por problemas ambientais, caíram em desuso.

O maior sucesso na navegação interior brasileira é o Rio Madeira. A ligação entre Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM) é hoje a principal rota de expansão da soja do Mato Grosso. A utilização da hidrovia, que segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviário (Antaq) já chega a 10 milhões de toneladas de grãos por mês, serve de referência para outros rios. Graças a ele, transportar soja do Mato Grosso ficou mais barato: uma tonelada do grão custava US$110 para ser transportada até o porto de Santos; pela hidrovia, custa apenas US$45 para chegar ao mar.

Obras na selva amazônica somam R$700 milhões

Os caminhoneiros da região, que chegaram a protestar em 1998 contra a nova empreitada, agora comemoram, pois têm seus serviços utilizados no sistema de abastecimento da hidrovia. Eles buscam o produto na fonte e levam ao rio, fazendo viagens de no máximo 900 km.

Apesar disso, a hidrovia ainda não está em operação total: se forem construídas mais três eclusas (elevadores) - nas novas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau e outra na divisa da Bolívia - esse caminho natural ganhará mais 4 mil km navegáveis. Com a interligação com o Rio Guapuré, a hidrovia chegará, direto, ao Mato Grosso.

Outras duas hidrovias são apontadas como os futuros casos de sucesso: Teles Pires-Tapajós e Tocantins-Araguaia. As duas fariam a mesma rota que o Rio Madeira: levar a produção do Centro-Oeste para o Atlântico, na Região Norte. Especialistas indicam que Teles Pires-Tapajós pode chegar a transportar o dobro do que hoje passa pelo Madeira, mas há a necessidade de obras de R$700 milhões em eclusas no coração da selva amazônica.