Título: País se torna VIP para Banco Mundial e BID
Autor: Paul, Gustavo e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 09/09/2007, Economia, p. 33

Organismos estão reformando modelos de financiamento para atender a países emergentes de primeira linha.

BRASÍLIA. O Brasil, ao lado de outros países emergentes de primeira linha, como Índia, Rússia e China - juntos, os quatro são denominados os Brics, sigla com as iniciais de cada um -, está assumindo um novo papel VIP diante dos organismos multilaterais de crédito, particularmente o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As instituições estão sendo forçadas a reformar seu modelo de financiamento para agradar a essa clientela. Esses países deixaram de ser considerados "adolescentes" por alguns executivos desses bancos. Agora, são tidos como "adultos".

O Brasil começa a sentir as primeiras mudanças. Até o fim deste ano, o pagamento ao Bird de parcelas de financiamento para o Programa Estadual de Transportes do Estado do Rio deverá ser feito em real, e não mais em dólar. Os detalhes já estão sendo resolvidos, e o governo estadual aplaude a idéia:

- Isso diminui a nossa dívida em dólar e o nosso custo. Eu não gosto de dever em moeda estrangeira - diz o secretário de Fazenda do Rio, Joaquim Levy, que foi secretário do Tesouro Nacional.

O programa Procidades, do Ministério do Planejamento - voltado para a melhoria urbana de municípios com recursos do BID - também deverá ser feito em moeda local. Entre as primeiras cidades a serem contempladas está Niterói. A vantagem é que municípios e estados deixam de correr o risco da variação cambial. Atualmente, apenas México e Colômbia, além do Brasil, usam moeda local.

Outra novidade é que o Banco Mundial quer fazer do Brasil um piloto, cuja experiência, se bem-sucedida, poderá ser estendida a outros países. Foi aceito que as regras de licitação brasileiras passem a ser adotadas em concorrências promovidas pelo banco.

Experiências bem-sucedidas são repetidas em outros países

A vantagem é que os governos estaduais e municipais não precisarão formar equipes especializadas nas idiossincrasias do Bird. Duas outras inovações brasileiras serão testadas: o pregão eletrônico e o controle de contas, feito pelo Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), do Ministério da Fazenda.

- Exportar a boa experiência brasileira faz parte de nossa estratégia de parceria com o governo nos próximos quatro anos. Vocês estão no bom caminho - afirmou o gerente de Programa, Operações e Carteira do Bird no Brasil, Alexandre Abrantes.

O vice-presidente para Países do BID, Otaviano Canuto, reforça essa visão. Segundo ele, experiências bem-sucedidas no Brasil são repassadas a outras nações. Ele citou como exemplos, aliás, a administração da dívida pública e o saneamento.

- São lições dadas não só pelo governo federal, mas por determinados estados e municípios - destacou Canuto, que foi secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda no primeiro mandato do governo Lula e diretor do Bird.

O tratamento dado a um cliente de primeira linha requer também serviços adicionais como atrativos. Nesse sentido, o BID vem oferendo cooperação técnica especializada com o financiamento, em atuações como reformas administrativas em estados e municípios brasileiros. Essa visão é consensual, quando são ouvidos representantes do Bird.