Título: Renan: oposição tentará mudar regra e abrir sessão
Autor: Jungblut, Cristiane e Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 10/09/2007, O País, p. 5

Apesar de o voto ser secreto, Delcídio e Suplicy querem tornar público o debate sobre cassação do presidente do Senado.

BRASÍLIA. Para tentar aumentar a pressão sobre os senadores e evitar traições, um grupo favorável à cassação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fará uma última tentativa de transformar em aberta a sessão sigilosa de quarta-feira, que decidirá o futuro político do presidente do Senado. Os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Eduardo Suplicy (PT-SP) apresentam hoje projeto de resolução para mudar o regimento interno do Senado, que prevê a realização de sessão fechada em casos de votação de cassações.

Nas contas de alguns oposicionistas, Renan tem uma leve vantagem no placar, e hoje se livraria da cassação. Aliados de Renan também reiteraram ontem que a margem é apertada, mas que o presidente do Senado está confiante e reforçando a posição de que lutará até o fim.

Petista diz que sua atitude é para marcar posição

Com quadro desfavorável, Delcídio e Suplicy querem fazer com que o debate sobre o processo de perda de mandato de Renan seja público, podendo ser transmitido ao vivo pela televisão. Mesmo que a idéia da oposição prospere, a votação continuará sendo secreta, já que a Constituição estabelece que, em caso de perda de mandato, a votação tem que ser secreta. Só a sessão seria aberta.

Delcídio disse que sua atitude é para marcar posição, admitindo que dificilmente os líderes aliados de Renan concordarão com a mudança, que teria que ser aprovada em tempo recorde. Ele acredita que a proposta precisaria passar pelo crivo apenas da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), mas sua assessoria vai avaliar se será preciso também passar pelo plenário da Casa:

- A proposta depende de acordo de liderança. Nesse momento, o Senado se transformar num conclave seria uma coisa muito esquisita. Se a Câmara faz isso abertamente, qual o problema? Além disso, no Conselho de Ética foi tudo aberto.

Suplicy acredita que a tese da sessão aberta poderá vingar, uma vez que seria uma forma eficaz de o próprio Renan explicar publicamente as contradições em torno dos documentos apresentados em sua defesa:

- Seria melhor para ele, pois, como garante que seus argumentos são consistentes, nada melhor que expô-los a toda a sociedade. Com isso, ganharia credibilidade e evitaria o constrangimento dos senadores diante da opinião pública, caso o placar seja contra a cassação.

O líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), diz que Renan vencerá, com oito a dez votos de vantagem. Mas admite que no PMDB haverá defecções, embora calcule que de poucos:

- Creio que podem ocorrer um ou dois votos contrários.

Documentos da defesa contêm divergências

A mesma avaliação é feita por ele para o PT, considerado o fiel da balança na votação de quarta-feira. Atuando como advogado, Raupp utiliza o discurso de Renan para tentar demover os que querem cassar o colega:

- Não há provas. A polêmica girou mais em função dos documentos apresentados pelo próprio Renan, documentos, aliás, que ele nem precisava apresentar e somente o fez com o intuito de contribuir com as investigações.

Os documentos entregues por Renan ao Conselho, e periciados pela Polícia Federal, atestaram que os saques feitos em sua conta não coincidem com os pagamentos feitos à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Há divergências sobre a venda de bois que Renan disse ter comercializado para justificar sua renda. No último fim de semana, a revista "Época" reforçou as denúncias ao noticiar que apadrinhados políticos dele estariam sob investigação por irregularidades na Fundação Nacional de Saúde (Funasa).