Título: Na véspera, esforço para abrir sessão
Autor: Camarotti, Gerson e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 11/09/2007, O País, p. 3

Senadores recorrem contra reunião secreta, mas admitem que será difícil.

BRASÍLIA. Parlamentares se mobilizaram em várias frentes, ontem, na tentativa de garantir que o julgamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), seja realizado amanhã em sessão aberta. O senador Delcídio Amaral (PT-MS) apresentou um projeto de resolução, com pedido de urgência, propondo a alteração do regimento interno da Casa. Embora já tenha falado com vários líderes partidários favoráveis à mudança, Delcídio reconhece que são pequenas as chances de aprovação da proposta.

- Se não conseguirmos que essa proposta seja aplicada na quarta-feira (amanhã), que pelo menos ela possa ser validada para os próximos julgamentos - disse, negando que a iniciativa fosse oportunista.

Em outra frente, o relator do caso Renato Casagrande (PSB-ES) defende um acordo de líderes para que a sessão do plenário seja aberta:

- Espero que um acordo de líderes decida pela votação secreta apenas, com sessão aberta. Estamos conversando para isso. O Senado já tem prática de fazer acordos para agilizar votações, mesmo passando por cima de regras regimentais. Então, existe a possibilidade de termos um acordo.

Deputados querem garantir presença no plenário

Já deputados do grupo auto-intitulado "Terceira via", encabeçado pelo PPS, vão apresentar requerimento à Mesa do Congresso para participarem como assistentes da sessão de amanhã. O grupo pretende também recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), com um mandado de segurança preventivo, para assegurar o acesso às galerias durante a votação. Esse requerimento será assinado pelo senador José Nery (PSOL-PA), autor da representação contra Renan, em nome dos deputados Raul Jungmann (PPS-PE), Chico Alencar (PSOL-RJ), Fernando Gabeira (PV-RJ), Paulo Renato (PSDB-SP), Raul Henry (PMDB-PE) e Luiza Erundina (PSB-SP).

- Ele (Renan) não preside apenas o Senado, mas o Congresso Nacional, do qual fazemos parte - ponderava Jungmann ontem.

Em plenário, vários parlamentares manifestaram desconforto e contrariedade com a situação.

- Não estaremos ajudando o Brasil ao fazer uma sessão escondida, com voto secreto. Claro que se argumenta que o regimento assim diz. Então, está na hora de mudarmos o regimento, ainda que isso não sirva para a sessão de quarta-feira - argumentou Cristóvam Buarque (PDT-DF), da tribuna.

"Deveríamos seguir o exemplo da Câmara", diz tucano

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), foi outro que defendeu a mudança imediata do regimento.

- A sessão tem que ser aberta. Essa reunião fechada lembra aquelas sociedades secretas americanas onde se combinava tudo, até crime. Isso não me agrada. Nunca participei de um momento como este. Aliás, nisso a Câmara está na frente do Senado. Deveríamos seguir o exemplo - ponderou Virgílio.

Para Álvaro Dias (PSDB-PR), a sessão secreta possibilita a encenação e a falsidade:

- É possível votar de uma forma no Conselho de Ética e mudar, na clandestinidade do voto.

Paulo Paim (PT-RS) não só reforçou a defesa do voto aberto para todas as votações na Casa, como deixou clara a intenção de votar pela da cassação:

- No Sul, quem falar que vai votar contra a cassação está morto.

- Vem crescendo o voto a favor da cassação devido à gama de informações que chegam ao Senado e à pressão das ruas - admitiu o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP).