Título: Senado já discute a sucessão de Renan
Autor: Camarotti, Gerson e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 11/09/2007, O País, p. 3

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS

Cresce a articulação para convencer presidente da Casa a renunciar em troca da absolvição.

A48 horas de decidir o futuro do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), senadores falavam abertamente, ontem, sobre sua sucessão e faziam prognósticos inclusive para a hipótese de ele conseguir se livrar da cassação do mandato, na sessão de amanhã. Tucanos chegaram a propor um nome para o lugar de Renan - Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) - e a criticar outros - José Sarney (PMDB-AP) e sua filha, Roseana Sarney (PMDB-MA). As articulações estão tão explícitas que o próprio Renan foi comunicado de que um grupo de senadores estaria disposto a votar pela absolvição, caso ele aceitasse a possibilidade de renunciar à presidência, para que o Senado possa voltar à normalidade.

Mas, até ontem, Renan, confiante no apoio da maioria, resistia à idéia de se afastar. Em conversas reservadas, o senador alagoano considerou que tem votos para escapar da cassação. Mas, segundo aliados, ele pode rever a estratégia se perceber, entre hoje e amanhã, que a situação piorou. Neste caso, daria sinal verde ao "acordão".

Renúncia agrada ao Planalto

A proposta de um "acordão" tem a simpatia pessoal de José Sarney e agrada ao Palácio do Planalto por dois motivos: ajudaria o aliado Renan e garantiria a volta à normalidade para votar matérias de interesse do governo, como a prorrogação da CPMF.

- Muita gente já propôs a ele a solução de renunciar ao mandato. Mas, na avaliação de Renan, se fizer isso, assumiria a culpa das acusações. Por isso, a resistência - explicou ontem o senador Edison Lobão (DEM-BA), que se recusa a declarar o voto.

Mão Santa (PMDB-PI) defendeu abertamente a absolvição de Renan, em troca da renúncia à presidência. Mas evitou falar em "acordão":

- Não estou defendendo um "acordão". Estou defendendo uma tese. Se ele renunciar à presidência, voto pela manutenção do seu mandato. Só quem pode cassar o mandato de um senador é o povo.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disse que Renan não tem mais como ficar no cargo, se absolvido, e defendeu o veto do PSDB a Sarney e a Roseana. Indagado sobre um acerto em torno da saída de Renan da presidência, para preservar o mandato, ele sugeriu que a família Sarney estaria articulando essa saída:

- Não tenho certeza do resultado, mas não vejo como ele (Renan) permanecer como presidente da Casa, ainda que seja absolvido. Temos que deixar clara a posição do PSDB: não dá para apoiar Sarney nem a filha dele. Se tivermos um nome (do PMDB), vamos levar. Se não, vamos lançar um nome do protesto.

Virgílio expressou o veto num seminário do partido sobre reforma política. O líder tucano disse não saber quem quer para presidente da Casa, apenas quem não quer. Mas o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), já apresentou um nome para o cargo:

- Jarbas Vasconcelos, da ala oposicionista do PMDB, para o lugar de Renan, caso ele renuncie.

Da tribuna, Cristovam Buarque (PDT-DF) alertou sobre um possível acerto. Para ele, quem votar pela absolvição terá que se preparar para aceitar Renan na presidência:

- Não se pode aceitar que ele saia da presidência se for absolvido. Vai parecer que houve um acordo, para que se fizesse apenas a metade do caminho. Quem achar que o trabalho do Conselho de Ética não é um trabalho sério, vai ter que aceitar Renan na presidência se ele for absolvido.

O PSDB reúne hoje a bancada para anunciar que votará unido pela cassação. No entanto, três tucanos são considerados favoráveis a Renan: Papaléo Paes (AP), Flexa Ribeiro (PA) e João Tenório (AL). Tasso afirmou:

- Conversei com o Papaléo e com o Flexa e eles me garantiram que votarão com o partido. Já Tenório é mais complicado, é amigo do Renan.

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