Título: Agências contestam licitação dos Correios
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 11/09/2007, O País, p. 5

Empresas de publicidade discordam do resultado da concorrência para contas de propaganda.

BRASÍLIA.No mais novo capítulo da disputa que elevou a temperatura do mercado publicitário, sete agências contestaram ontem o resultado da licitação de três contas de propaganda dos Correios. Nos recursos, cujos conteúdos serão conhecidos hoje, as empresas derrotadas lançam dúvidas sobre o processo em que nenhum dos escolhidos pela estatal obteve nota técnica suficiente para incluí-los entre as três melhores propostas. O apetite também tem explicação financeira: em um ano, serão distribuídos R$90 milhões.

Ao fim de um longo processo, a comissão de licitação declarou vencedoras as empresas Artplan, a Propeg e a Casablanca Comunicação. Elas cuidarão, respectivamente, das campanhas publicitárias do Sedex Mundi (versão internacional do Sedex); telegramas; e da publicidade institucional referente aos patrocínios esportivos dos Correios (esportes aquáticos e futsal). Essas empresas ainda terão direito a defesa, antes de a comissão julgar os recursos das agências derrotadas. Não há prazo para a decisão final.

Empresas reclamam de quantidade de recursos

Contestam o resultado a Agnelo Pacheco, 3P Comunicações, DeBritto, DPZ, Giovanni, Link e NovaS/B. Representantes de algumas dessas agências ouvidos pelo GLOBO reclamam e dizem que o novo modelo de licitação adotado pelos Correios abriu espaço para muitos recursos das agências que ficaram para trás na primeira fase da concorrência. E que o rigor da comissão no julgamento dos protestos provocou distorções poucas vezes vistas.

A Artplan, vencedora da conta do Sedex Mundi, no valor de R$45 milhões, teve apenas a sétima melhor nota técnica. A Casablanca, que abocanhou R$23 milhões para fazer a propaganda institucional, classificou-se na sexta colocação. E a Propeg ficou em quatro lugar na disputa pela conta dos telegramas, de R$ 22 milhões.

- É uma situação totalmente atípica, nunca vi isso no mercado publicitário (uma empresa vencer com nota técnica baixa). A verdade é que, se, fosse usado com todas as agências o mesmo rigor que derrubou as que tiveram as maiores notas, não sobraria ninguém - diz o diretor de uma das agências derrotadas, que pediu para não ser identificado.

Outras agências dizem que a licitação foi contaminada pela escolha da Casablanca, que em 2002 participou, em Minas Gerais, da campanha eleitoral do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), para o Senado. Isso porque os Correios, alegam as empresas, estão ligados ao Ministério das Comunicações. Costa disse semana passada que as críticas à escolha da Casablanca fazem parte da disputa entre as empresas no mercado e que não tem contato com a agência mineira há três anos e meio.

- Tem três anos e meio que eu não vejo ninguém desta agência. Eu abro o meu telefone celular, eu abro o telefone da minha casa, do Ministério das Comunicações, para ver se alguém acha algum telefonema meu para qualquer pessoa ligada à estrutura dessa agência de publicidade. Pode entrar nos três. Tem três anos e meio que eu não vejo ninguém. Isto é um absurdo, uma falta de respeito - disse o ministro das Comunicações.

O diretor de uma agência acredita que os Correios podem cancelar a licitação:

- Acho que eles terão de suspender essa e recomeçar o processo. Há muito tempo não há tanta polêmica em torno de uma licitação.

Para Hélio Costa, a polêmica tem o objetivo de atingir os Correios.

- Querem fragilizar a Empresa de Correios e Telégrafos para poder vender a empresa lá na frente. Só pode ser isso, porque há forças que atuam em cima na tentativa de se privatizar a ECT - disse Hélio Costa.

Na primeira fase, 28 propostas foram desclassificadas

Vinte e oito agências de publicidade de médio e grande porte participaram da licitação, sendo que algumas delas concorreram nos três lotes disponíveis. Na primeira fase, a comissão de licitação desclassificou 28 das 64 propostas. Em sua maioria, projetos de campanhas publicitárias entregues fora dos padrões exigidos. Para a elaboração das notas técnicas, cada agência foi obrigada a entregar duas propostas, sendo uma delas sem a identificação do autor.