Título: Sem computador, sem microfones
Autor: Lima, Maria e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/09/2007, O País, p. 3

STF autoriza a presença de 13 deputados na sessão secreta.

BRASÍLIA. Em uma negociação com participação intensa do presidente Renan Calheiros, o vice-presidente Tião Viana (PT-AC) decidiu que na sessão em que será votado o destino do peemedebista está proibido o uso dos computadores. Eles foram retirados do plenário. Os microfones serão desligados. O uso de celulares não será vetado, mas seu uso será restrito, para que informações não vazem e os detalhes da sessão, fotografados ou filmados.

Tião costurou os detalhes das regras do jogo durante a sessão de ontem, em conversas com a secretária-geral da Mesa, Claudia Lyra, nomeada por Renan. Ontem à noite, foi realizada uma varredura no plenário para tentar descobrir escutas ambientais. Nada foi encontrado. Até o início da sessão, às 11h de hoje, o plenário ficará trancado, vigiado por um batalhão de seguranças.

Um e-mail enviado ontem pela Polícia do Senado aos funcionários avisou que as visitas turísticas seriam suspensas. Tião desautorizou a medida. O boato de proibição de celulares irritou os senadores:

- Nem em conversa com o presidente da República sou proibido de usar celular. Isso está parecendo um conclave no Vaticano - emendou Delcídio Amaral (PT-MT).

Entrou em cena a turma do "deixa disso". Ficou decidido que o uso dos celulares será apenas restrito, mas não haverá seguranças no plenário e os senadores não serão revistados. Eles também não serão impedidos de deixar a reunião e depois retornar, mas serão orientados a permanecer do início ao fim para evitar insinuações. A previsão é de que a reunião dure cerca de cinco horas. Serão servidos água, café e biscoito.

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu a 13 deputados o direito de assistir à sessão que definirá o destino de , Renan Calheiros . A decisão, despachada na madrugada de hoje, fará com que a sessão não seja presenciada apenas por senadores, como determina o regimento interno da Casa. A votação continuará sendo secreta.

Os parlamentares pediam que a sessão fosse aberta e transmitida por emissoras de rádio e TV ou, pelo menos, terem o direito de assistir à sessão.

O ministro alegou na decisão que, como Renan é também presidente do Congresso, é de interesse dos deputados acompanhar a sessão de hoje. "Não vejo como dar guarida à proibição da presença dos deputados na sessão deliberativa em que se discutirá a perda do mandato do presidente do colegiado maior do qual fazem parte. Essa dúplice condição ostentada pelo Senador Renan Calheiros, faz com que todos os parlamentares, sejam eles membros da Câmara ou do Senado Federal, tenham legítimo interesse no desfecho da sessão".

Entre os beneficiados com a medida estão os deputados Raul Jungmann (PPS-PE), Fernando Gabeira (PV-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ), além de representantes do DEM, do PSB, do PSDB e do próprio PMDB de Renan.