Título: Na véspera, tensão e guerra de números e de nervos sobre placar
Autor: Vasconcelos, Adriana e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/09/2007, O País, p. 4

DIA D NO SENADO: Até ontem, presidente rejeitava idéia de renunciar ao cargo.

Senadores esperam resultado apertado e traições na votação secreta.

BRASÍLIA. Uma guerra de números e nervos foi travada ontem durante todo o dia entre os aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os que defendem abertamente sua cassação na tentativa de encerrar a crise que paralisa a Casa há cerca de 120 dias.

Na verdade, porém, ninguém tinha certeza do resultado da sessão fechada, já que o voto secreto dá margem a traições e mudanças de última hora. Alguns esperavam um placar apertadíssimo, com a decisão, para um lado ou para outro, saindo com uma diferença de um a dois votos. Outros, inclusive os que defendem a cassação, demonstravam desolação, acreditando que Renan pode ser absolvido com até 46 votos.

Ciente do risco de perder não só o mandato como os direitos políticos por 11 anos, Renan resistia até ontem à sugestão de conselheiros para que surpreendesse o plenário antes da votação, anunciando seu afastamento da presidência do Senado.

Renan confiante em recompor relações com colegas

Renan teria sinalizado que poderia avaliar a idéia da renúncia ou licença do cargo, caso seja absolvido, embora continue confiante que pode recompor relações com os colegas e garantir o arquivamento das três representações que tramitam no Conselho de Ética contra ele.

Almeida Lima (PMDB-SE), único do trio de relatores do processo que pediu a absolvição do presidente do Senado no Conselho de Ética, estava otimista:

- O Renan será absolvido com pelo menos 50 votos.

Já Jarbas Vasconcelos (PSDB-PE), lançado pela oposição como alternativa à sucessão de Renan, caso ele seja condenado, previa um placar diferente:

- Aposto na cassação, com uma diferença de sete a dez votos.

A amigos, Renan confidenciou que já não estava mais seguro da posição de vários senadores. Telefonou ontem a quase todos os petistas, com o mesmo discurso: de que não havia provas e que era uma vítima.

A divisão da Casa fez com que vários senadores, preocupados com a opinião pública, abrissem o voto. Garibaldi Alves (PMDB-RN) foi um deles. Avisou a Renan, antes de anunciar da tribuna, que votará pela cassação:

- A situação se agravou, e esse quadro não deve continuar. Não há saída para o impasse. O presidente do Senado esgotou seus instrumentos de defesa e não convenceu. Por isso, decidi acompanhar a posição do Conselho de Ética. O Senado não pode ficar à mercê dessa crise.

Osmar Dias (PDT-PR) e Antonio Carlos Valadares (PSB-ES) também deixaram claro o apoio à cassação.

- Vou seguir a orientação do líder do meu partido, que foi um dos relatores do processo - confirmou Valadares, referindo-se a Renato Casagrande (ES).

Os tucanos, que fecharam questão em favor da cassação de Renan, previam um placar de 42 a 45 votos pela perda do mandato. Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo, duvidava:

- Não dá para fazer prognóstico com voto secreto.

O sinal amarelo acendeu ontem na presidência do Senado com as informações de mudanças de voto. Renan iniciou, então, uma recontagem. A avaliação de seus aliados era de que a votação estava incerta, placar diferente da semana passada, de 45 votos pela absolvição. Pela primeira vez, Renan demonstrou insegurança. Telefonou àqueles que anunciaram o voto e ouviu várias vezes a desculpa de que o voto pela absolvição estava garantido, mas era preciso fazer jogo de cena para evitar a pressão da mídia. Renan também monitorou o empenho dos aliados. Nem José Sarney (PMDB-AP) escapou à checagem.