Título: Renan apela aos santos e até a amigo em lua-de-mel
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/09/2007, O País, p. 5

DIA D NO SENADO: Da Espanha, ex-senador busca votos.

Presidente do Senado pede ajuda a Gilberto Miranda.

BRASÍLIA. Nas 24 horas que antecederam a sessão que decidirá seu futuro, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apelou aos santos, aos amigos e não hesitou nem mesmo em interromper a lua-de-mel do ex-senador Gilberto Miranda, na paradisíaca Ilha de Mallorca, na Espanha, para que ele engrossasse a tropa de choque que passou o dia cabalando votos contra a cassação. O hoje milionário empresário, que se casou com Carolina Andraus há dez dias, disparou telefonemas para tentar virar votos considerados indefinidos, com o argumento de que Renan poderia renunciar à presidência para salvar o mandato.

No cafezinho do Senado, o clima era festivo em razão de um banquete com comidas típicas do Pará oferecido por Flexa Ribeiro (PSDB-PA), depois de sessão especial em homenagem ao Círio de Nazaré, cuja imagem ficou ao lado de Renan e a quem ele pediu a bênção.

- O Renan está sofrendo mais que romeiro na corda em procissão do Círio - brincou Heráclito Fortes (DEM-PI).

Mesmo afastado da política, Miranda tem influência no Norte do país e bom trânsito em vários partidos. Um dos seus alvos foi o senador Gerson Camata (PMDB-ES), que promete votar pelo relatório aprovado no Conselho de Ética, que recomenda a cassação do mandato. Camata contou que Miranda perguntou como seria seu voto.

- Meu voto é a favor da aprovação do relatório, a favor do Senado e do Brasil, porque eu quero andar tranqüilo na rua - respondeu Camata.

Segundo Camata, Miranda teria então perguntado se ele mudaria o voto caso Renan renunciasse à presidência.

- De jeito nenhum. O Renan não tem salvação, desiste - disse-lhe Camata.

Para Camata, esse tipo de expediente reforça a possibilidade de Renan tentar um teste no plenário. Dependendo do resultado da votação de algum requerimento, por exemplo, ele poderia renunciar à presidência para preservar o mandato.

- O Renan vai tentar de tudo - afirmou Camata.

Miranda não foi o único acionado por Renan. Empresários - mas os senadores evitaram dar nomes - entraram em campo, assim como o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. Um tucano admitiu ter recebido telefonemas de pelo menos dois empresários pedindo a absolvição.