Título: Cabral ameaça renunciar contra Cesar-Garotinho
Autor: Balbi, Aloysio e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 12/09/2007, O País, p. 11

Governador diz que pode deixar governo do estado para disputar prefeitura do Rio se aliança PMDB-DEM for mantida.

CAMPOS e RIO. O governador Sérgio Cabral (PMDB) ameaçou ontem lançar mão de uma manobra inusitada para tentar impedir uma vitória da aliança entre seu partido e o DEM: renunciar ao cargo para se lançar candidato à Prefeitura do Rio ano que vem. Cabral tenta se livrar de um embaraço com os petistas. Aliado nacional e estadual do peemedebista, o PT foi tratado como adversário número um no estado pelo presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, na reunião que sacramentou o acordo com o DEM do prefeito Cesar Maia, anteontem.

- Eu poderia renunciar. E, se for necessário, o Pezão (Luiz Fernando, vice governador) fica no governo, e eu saio para prefeito. O que eu não posso admitir é ficar contra um desejo da população de ter a união com o governo federal. A minha aliança administrativa com o (presidente) Lula também é política - explicou Cabral, em visita a Campos, no Norte Fluminense, para em seguida completar:

- Não estou blefando.

Ontem, Cabral inaugurou na cidade a segunda pista da Ponte Rosinha Garotinho, sem a presença da ex-governadora. Em maio, ele já tinha inaugurado a primeira pista, com ela.

Cesar reagiu ontem dizendo que Cabral não tem com o que se preocupar: a eleição é apenas municipal e não confrontará Lula. O prefeito reafirmou, no entanto, que o governador participou da articulação da aliança. Cabral tem se apresentado apenas como um espectador da decisão de seu partido, mas tem interesse estratégico no acordo com o DEM.

- Nas duas vezes em que ele tomou a iniciativa de me contatar, em minha casa e na casa dele, nas últimas três semanas, reafirmou seu apoio à aliança. E ele e eu fomos muito claros: a eleição é municipal - afirmou Cesar, que foi além:

- Uma decisão dessas (desistir do governo em nome da Prefeitura) mostra o carinho que o governador tem pelo Rio. Se essa for a decisão dele, pode contar comigo.

O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que o acordo não terá reflexos nacionais:

- Ele (Cabral) pode estar certo de que o acordo passa somente pela prefeitura do Rio.

O recado de Cabral causou boa impressão no PT. O presidente regional do partido, Alberto Cantalice, disse que o governador demonstra não estar de acordo com a decisão do PMDB:

- O governador parece convencido de que a aliança com o governo federal é fundamental para o estado. Essa reação dele demonstra o objetivo de ter o PT ao seu lado.

O vice-governador, Luiz Fernando Pezão, contou que a possibilidade de renúncia tem sido ventilada há três dias por Cabral. Aliados do governador informam que ele teria recebido um telefonema de Lula, chateado com a aproximação com Cesar. Para completar, o tom declaradamente anti-PT tornou, para Cabral, o acordo indefensável.

- Eu me sinto preparado para ser governador do estado - disse Pezão.

Cabral afirmou que o "ótimo" relacionamento com o governo federal corre riscos, caso saia vitoriosa uma aliança entre o prefeito e o ex-governador, críticos do presidente Lula. No discurso, Cabral não citou os nomes dos colegas de partido:

- O estado está ganhando muito com essa boa relação com o presidente, e querem azedar isso. Basta de picuinhas, fofoquinhas e coisas pequenas.