Título: Brasil gasta R$27 bi em segurança
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 12/09/2007, O País, p. 12

ONG levantou dados de 2005; para especialistas, verba é mal empregada.

SÃO PAULO. O Brasil gastou oficialmente, em 2005, R$27 bilhões em segurança pública, somados os recursos da União, dos estados e do Distrito Federal, mas muito pouco dessa verba é destinada ao setor de inteligência. A informação está no 1º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG de especialistas que apresentaram ontem uma radiografia do tema no país, com números da criminalidade, do sistema prisional e do perfil dos policiais, além das despesas em todas as regiões.

Para o cientista político Guaracy Mingardi, diretor-científico do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas Para Prevenção ao Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud), o Brasil gasta mal esses recursos:

- Só de ter duas polícias (militar e civil), fazendo gastos dobrados, já se está errando. O governante quer a segurança assim: veículo, arma e policial. O dinheiro é mal gasto, mal distribuído, com compras malfeitas.

Um dos pontos mais criticados pelos especialistas é a falta de gastos ou investimentos em "inteligência e informação". O Rio é um dos piores exemplos: com R$3,6 bilhões, a segunda maior despesa de segurança do país (só perde para São Paulo, com R$6,2 bi), destinou R$70,3 mil em inteligência policial. Dos estados que declararam o valor investido, só perdeu para Santa Catarina, que gastou R$57,5 mil, mas teve um terço do orçamento fluminense.

- A inteligência virou moda. Todo mundo fala, mas é preciso levar adiante. E não é só comprar equipamentos, tecnologia. É preciso ter banco de dados. Os estados ainda fazem a busca da ficha policial do suspeito em papel. Não há integração. Já vi orçamento para perícia em que constava um notebook para o estado todo - disse Mingardi.

Se o Brasil gasta R$27 bilhões por ano em segurança pública, a violência cobra uma fatura três vezes maior: R$92 bilhões. Esse é o custo social do país em conseqüência da violência, segundo levantamento do grupo de Estudos da Violência do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). O instituto calculou o custo social da criminalidade, como as vidas perdidas nos tiroteios e acidentes de trânsito, os tratamentos médicos, a segurança privada e o setor de seguros. O gasto equivale a 5% do PIB (Produto Interno Bruto). O estudo, realizado pelos economistas Waldir Lobão, Daniel Cerqueira, Alexandre Carvalho e Rute Rodrigues, tomou como base o ano de 2004.