Título: Gabinete de crise
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 12/09/2007, Rio, p. 13

Depois do ataque ao trem com ministros, governo federal quer criar sala-situação.

Oministro da Justiça, Tarso Genro, decidiu ontem propor ao governo do Estado do Rio a criação de uma sala-situação para acompanhar casos limites como o ataque à comitiva dos ministros das Cidades, Márcio Fortes, e dos Portos, Pedro Brito, perto da Favela do Jacarezinho, anteontem. Depois de reunir sua equipe e analisar a investida de traficantes contra as autoridades, Tarso Genro resolveu adotar uma linha de enfrentamento com o tráfico.

- Temos hoje grupos de poder e territórios no Rio de Janeiro que se consideram estado paralelo. Agora eles vão, sim, encontrar a força do estado legal, quando isso for necessário - afirmou Tarso Genro, depois de participar de uma reunião com representantes da Frente Nacional de Prefeitos.

Pela sugestão de Tarso Genro, a sala-situação funcionará em Brasília como um gabinete especial de crise de segurança pública no Rio. O gabinete se reuniria para analisar e acompanhar a adoção de medidas repressivas a abusos como o ataque dos traficantes ao trem onde estavam os ministros. A proposta surgiu na reunião de ontem entre Tarso e seus secretários. A idéia seria apresentada ainda ontem pelo secretário nacional de Segurança, Antônio Carlos Biscaia, a Sérgio Cabral.

- Vamos ver se o governador acha necessário - disse o ministro.

Sala-situação é um local onde autoridades ou executivos discutem e gerenciam crises. O termo é inspirado na situation room (sala de situação) da Casa Branca, onde há um centro de conferências e gerenciamento de inteligência na ala oeste da sede do governo americano, em Washignton. É coordenada pelo Conselho Nacional de Segurança para uso do presidente americano e seus conselheiros, com o objetivo de monitorar e lidar com crises no país e no exterior. Segundo a Wikipedia americana (enciclopédia gratuita da internet), a sala-situação foi criada em 1962 pelo presidente John Kennedy, depois que o fiasco da Invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, foi atribuído à falta de informações em tempo real.

Tarso Genro disse que os 1.200 homens da Força Nacional permanecerão no Rio pelo período que Cabral considerar necessário. Até então, o acerto entre Tarso e Cabral previa a presença da Força Nacional só até o fim deste ano. A proposta de parceria é inédita. Até o fim do ano passado, no governo de Rosinha Garotinho, as autoridades de segurança estaduais e federais viviam às turras. Para o ministro, o ataque ao trem onde estavam Fortes e Brito foi um fato lamentável, mas não deve ser o único. Tarso entende que outros episódios poderão acontecer. Os bandidos estariam indóceis numa reação aos avanços de programas sociais do governo federal em territórios até então controlados pelo tráfico. Segundo o ministro, esses núcleos de poder paralelo serão enfrentados com vigor.

- Se nós formos eficazes na reocupação desses espaços tomados pela criminalidade, e nós seremos eficazes, vão ocorrer reações. E a União estará disponível para fazer as intervenções que o governador e o secretário de Segurança julgarem necessárias tanto através da Polícia Federal como com a Força Nacional - disse Tarso.

Linha férrea opera em "estado de cautela"

A MRS Logística opera em "sistema de cautela" desde que a composição que transportava dois ministros, entre outras autoridades, foi atingida anteontem por pelo menos quatro tiros de traficantes do Jacarezinho. De acordo com Sérgio Carrato, gerente de Patrimônio, um funcionário será mobilizado para acompanhar os maquinistas e observar qualquer movimentação anormal. A precaução deve ser mantida por uma semana. A empresa administra a via férrea que dá acesso ao Porto do Rio.

- Temos segurança própria e estamos no sistema de cautela. O trem circula normalmente, mas o maquinista é orientado a ter máxima atenção - disse Carrato.

O sistema foi adotado pela última vez no dia 20 de janeiro de 2005, quando um trem que transportava produtos siderúrgicos teve a carga violada. Na ocasião, bobinas chegaram a cair da composição. Hoje, a MRS está preocupada com possíveis reflexos de operações da polícia no complexo do Jacarezinho.

- O que nos deixa apreensivos foi a ação posterior (da polícia) que aconteceu ali. Não sei qual é a reação do outro lado (de bandidos), não quero pagar um pato que não é meu - afirmou o presidente da empresa, Júlio Fontana Neto.

A média de trens de carga que passam pela linha da MRS é de cinco por dia. No dia do ataque, além da composição com as autoridades, outras sete, carregadas, trafegaram no local. Ontem, não foram registrados problemas nas três composições que trafegaram na via.

COLABOROU Cláudio Motta