Título: Muito silêncio por nada
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 13/09/2007, O País, p. 4

Parlamentares narraram sessão à imprensa.

BRASÍLIA. O Senado pagou o alto preço de fazer uma sessão secreta para o julgamento de Renan Calheiros (PMDB-AL), por nada. As varreduras para retirar computadores, gravadores e até o sistema de som e microfones, não garantiram o sigilo dos debates e do comportamento dos senadores na sessão. Quase que em tempo real, as informações sobre os discursos de acusação e defesa, pronunciamentos e declarações de votos a favor e contra a absolvição chegavam ao lado de fora do plenário e nos sites on line, via celular e até por entrevistas de parlamentares, que saíam a todo momento do plenário.

Deputados e senadores acabaram se transformando em repórteres. Prestaram atenção nos discursos, anotaram trechos mais importantes. Entraram para a sessão munidos de celular e bloquinhos para não deixar passar nada sem registro. No meio da sessão, por exemplo, já se sabia que a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), fizera um discurso indicando que votaria contra a cassação. Cristovam Buarque (PDT-DF) primeiro pediu ao presidente Tião Vianna (PT-AC), que gravasse a sessão para constar dos registros históricos. Com a negativa, se rebelou e avisou que ficaria com o celular ligado:

- O povo tem direito à informação. No que depender de mim, pelo menos ficará sabendo de tudo e na hora. Depois, se quiserem me cassar, que cassem. Nesse caso eu sequer me defenderei. E espero ser julgado em sessão aberta - disse Cristovam ao blog do jornalista Ricardo Noblat.

Entre os 13 deputados que estavam em plenário, Ivan Valente (PSOL-SP), a cada hora, aparecia e narrava aos jornalistas o que estava acontecendo.