Título: Ideli disse não haver prova e chegou a pedir ajuda divina para escolha certa
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 13/09/2007, O País, p. 4
DIA D NO SENADO: "O silêncio covarde foi o grande vitorioso", diz Chico Alencar.
Apesar do placar, só quatro discursaram para pedir abertamente a absolvição.
BRASÍLIA. No silêncio dos bastidores, Renan Calheiros (PMDB-AL) conquistou os votos e abstenções decisivas para que ele escapasse da guilhotina. A estratégia bem sucedida ficou evidente ao longo da sessão secreta em que 19 senadores se inscreveram para discursar. Desses, 15 se declararam abertamente pela cassação e apenas quatro, contra. Outros quatro senadores desistiram de falar em cima da hora. Entre eles, o petista Aloizio Mercadante (SP), que, ao fim da sessão, admitiu ser o dono de uma das abstenções.
- O resultado foi desproporcional às manifestações públicas. O silêncio covarde foi o grande vitorioso - resumiu o deputado Chico Alencar, que assistiu à sessão graças a uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Só posso pedir luz", discursou Ideli
A reunião que absolveu Renan durou pouco mais de cinco horas e teve casa cheia: todos os 81 senadores compareceram. De acordo com a avaliação dos presentes, apenas os senadores Francisco Dornelles (PP-RJ), Almeida Lima (PMDB-SE), Ideli Salvatti (PT-SC) e Sibá Machado (PT-AC) discursaram a favor da absolvição. Uns mais enfáticos, outros menos.
- Onde está a prova de que a Mendes Júnior (construtora cujo lobista Cláudio Gontijo pagava a pensão da filha de Renan) pagou a pensão? O Conselho não investigou isso? - perguntou Ideli Salvatti, antes de terminar pedindo uma ajuda divina para que o plenário fizesse a escolha certa: - Só posso pedir luz.
Além de Mercadante, desistiram de discursar três dos principais aliados de Renan: o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e os líderes do PMDB, Valdir Raupp (RO), e do governo, Romero Jucá (RR). Eles retiraram suas inscrições depois de já selado o acordo que salvou o mandato do presidente do Senado.
A sessão começou às12h08m com os relatores Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES) lendo o relatório em favor da cassação. Almeida Lima (PMDB-SE), o terceiro relator, saiu em defesa de Renan atacando a imprensa:
- Qual é o Senado que queremos? Um Senado covarde, amedrontado diante de uma imprensa que quer nos substituir?- perguntou, repetindo o mesmo tom e expressões que seriam usadas no fim do debate por Renan.
Sem a ajuda dos microfones, que foram desligados para dificultar vazamentos, Lima interrompeu seu discurso num determinado momento para pedir água, sendo socorrido pelo próprio Renan e os principais aliados de momento: Wellington Salgado (PMDB-MG) e Gilvam Borges (PMDB-AP).
Embora tenha discursado pela cassação de Renan, o tucano Arthur Virgílio (AM) foi muito cuidadoso.
- É com muito pesar que entre a brilhante carreira do senador Renan e a instituição, o PSDB fica com ela (a instituição) - disse o tucano.
Gabeira é repreendido ao comer quibe no intervalo
O clima de hostilidade entre os governistas e renanzistas com os deputados que assistiam à sessão, graças a liminar do Supremo, também foi notado. Quando a sessão foi interrompida por 15 minutos para um lanche, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) se servia de um quibe, quando foi interpelado por Ideli Salvatti:
- A liminar do STF permite apenas que vocês assistam a sessão, a comer não!
Quando o resultado foi proclamado, Renan e seus aliados evitaram comemorações ostensivas. Ele cumprimentou um a um os senadores, dedicando mais tempo àqueles que garantiram sua sobrevida.
A sessão secreta, que durou mais de cinco horas, não entrará para os anais (registros oficiais) da Casa. Não foi gravada nem taquigrafada.
COLABORARAM Adriana Vasconcelos e Maria Lima