Título: Para senadores, decisão afeta imagem da Casa
Autor: Gois, Chico de e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 13/09/2007, O País, p. 8

DIA D NO SENADO: DEM e PSDB culpam PT por resultado; governistas dizem que houve traição em todos os partidos.

Já aliados de Renan comemoram e afirmam que outras denúncias perdem força depois da primeira absolvição.

BRASÍLIA. A absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez com que a imagem da Casa saia arranhada e a credibilidade fique em baixa. Esta é a avaliação de parlamentares que acreditam que a Casa errou ao não cassar o mandato de Renan e irá pagar perante a opinião pública. Para esses senadores, prevaleceu o espírito de corpo, ampliado graças ao voto secreto que, agora, dizem eles, é imperioso rever. Já os aliados de Renan comemoraram a decisão do plenário.

O relator do processo no Conselho de Ética, Renato Casagrande (PSB-ES), disse que a opinião pública foi desconsiderada. Para ele, embora o plenário seja soberano, houve arrogância:

- A decisão é soberana, mas o que aconteceu foi de uma soberania arrogante. Isso é péssimo para o Senado.

Ele avaliou que a crise se instalou de vez na Casa.

- E vai permanecer acampada aqui. Isso é sinal de que o Senado perdeu sua importância.

Para Demóstenes Torres (DEM-GO), que defendeu o afastamento de Renan, o Senado se tornou parceiro de seu presidente na crise:

- A imagem do Senado, hoje, é a de um pau de galinheiro. Nada é pior que o que aconteceu aqui. Todo mundo vai pagar. Foi uma votação equivocada.

César Borges (DEM-BA) considera que o resultado fortaleceu Renan, mas prejudicou o Senado. Para ele, o PT ajudou na definição do placar pró-Renan.

- Ele sai fortalecido, mas o Senado sai desgastado.

"A descrença vai se aprofundar"

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que o resultado decepcionou:

- Não tinha razão para o resultado não ser igual ao do Conselho. A descrença em nós vai se aprofundar. A população tem razão: do jeito que está, não dá para continuar.

Ele criticou a relação do governo com o Parlamento:

- É o resultado da relação promíscua entre o governo e o Congresso, sem nenhuma noção de caráter, de lealdade.

Integrante do PMDB, mas da oposição, Jarbas Vasconcelos (PE) disse que Renan já havia quebrado o decoro ao permanecer na presidência durante o processo no Conselho de Ética.

- A maior quebra de decoro foi se manter no cargo e utilizar a estrutura do Senado em seu benefício. A paralisação dos trabalhos deve se manter, pois o presidente ficou enfraquecido. O Senado rompeu a sintonia com a população, a opinião pública e aqueles que colocam a ética como essencial para a função pública. O Senado sai menor desse episódio.

A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), disse que as bancadas ficaram divididas e as abstenções foram o fiel da balança:

- Eu disse que no PT não seria feito monitoramento nem patrulhamento. Cada um decide conforme sua consciência. O resultado demonstrou divisão em todos os partidos.

"Renan foi ratificado"

Os aliados do presidente do Senado, como Almeida Lima (PMDB-SE), disseram que o plenário fez justiça:

- Renan foi absolvido e ratificado. Não há quebra de decoro. Isso legitima Renan ainda mais como presidente do Senado. Ele deve procurar as lideranças para estabelecer uma pauta produtiva do Senado.

Opinião semelhante tem Valdir Raupp, líder do PMDB.

- Acabar 100%, a crise não acaba, mas atenua o clima na Casa e as demais denúncias perdem força, já que a mais difícil era essa primeira.

Na Câmara, a oposição criticou a decisão. O PSDB e o DEM responsabilizaram o PT:

- O resultado fala por si. Se há um vitorioso, é o presidente Lula e o PT, que liberou o voto. Pena que Lula esteja na Escandinávia, senão seria convidado de honra (para a festa), fumando um puro, um (charuto) Havana - disse Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP).

- O resultado mostrou uma tragédia. O Senado se descolou da sociedade brasileira. A vitória é do presidente Lula e dos partidos da base, principalmente do PT - acrescentou o líder do DEM, Onyx Lorenzoni (RS).

Os governistas reagiram, afirmando que era não possível falar em governo e oposição, e que houve "traições", inclusive entre tucanos e democratas.

- Alguns do PSDB e do DEM votaram pela absolvição. É jogo de cena. Senadores que disseram que votariam contra votaram a favor. Que agora o Congresso consiga sair da crise - disse o líder do governo, José Múcio (PTB- PE).

O líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), disse que o PT não "vestia a carapuça":

- Ninguém pode, numa votação secreta, fazer juízo de valor. Não aceito a carapuça, porque o PT liberou a bancada.