Título: Antes, deputados e seguranças trocaram socos e empurrões
Autor: Gripp, Alan e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 13/09/2007, O País, p. 10

DIA D NO SENADO: No tumulto, uma arma de choque caiu das mãos de um vigilante e foi confundida com revólver.

Pugilato aconteceu perto da porta do plenário do Senado; Luciana Genro e três vigilantes se feriram.

BRASÍLIA. Cenas de pugilato marcaram ontem os momentos que antecederam a sessão secreta que absolveu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Deputados que queriam entrar no plenário e seguranças trocaram socos e empurrões diante das câmeras. No tumulto, uma arma de choque, usada para aplicar descargas elétricas, caiu das mãos de um vigilante e foi confundida com um revólver. A deputada Luciana Genro (PSOL-RS) sofreu um corte na perna e três seguranças do Senado, que teriam sofrido ferimentos leves, fizeram exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML).

A confusão aconteceu às 11h, quando um grupo de deputados tentou entrar no plenário e foi barrado. Eles estavam amparados por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) dada dez horas antes, mas os seguranças disseram não ter sido avisados. Fernando Gabeira (PV-RJ) e Raul Jungmann (PPS-PE), que puxavam o grupo, tentaram entrar à força e os funcionários reagiram.

Gabeira chegou a dar soco em Tião

Os deputados acusaram os seguranças de agir com truculência. Os vigilantes, por sua vez, alegaram ter cumprido ordem para permitir a entrada apenas de senadores. Um segurança contou ter dito aos deputados que eles teriam acesso apenas às galerias do plenário, e que eles não teriam concordado.

- Tínhamos a orientação de barrar todo mundo que não fosse senador - disse um segurança.

Além de Luciana Genro, Gabeira e Jungmann, estavam no grupo de deputados barrados os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Chico Alencar (PSOL-RJ), que protestou:

- Essa confusão foi um subproduto dessa excrescência que é a sessão secreta.

Na confusão, Gabeira chegou a acertar um soco no vice-presidente do Senado, Tião Viana, que criticara a decisão do STF e apoiou o pedido de reconsideração da liminar feito pela Mesa Diretora. Gabeira garantiu que o golpe foi involuntário e que os dois fizeram as pazes.

- Inadvertidamente, num movimento, dei um soco no presidente (Tião Viana), mas já nos beijamos, já pedimos desculpas - disse Gabeira.

Com uma marca vermelha na bochecha, Tião aceitou as desculpas:

- Já ganhei um beijo, está tudo bem.

Revoltado, Jungmann cobrou a demissão dos seguranças envolvidos na confusão:

- Eles vão ter que pagar por isso! Nunca na história desta Casa isso aconteceu - protestou.

Membro da Mesa do Senado, o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) saiu em defesa dos seguranças:

- Eles (os deputados) querem aparecer. Só porque têm um broche no peito acham que podem intimidar os das classes mais baixas? Os seguranças estão cobertos de razão. Os deputados que vão fazer bagunça lá na casa deles! - disse Papaléo.

E teve o apoio do senador Jayme Campos (DEM-MT):

- Não podemos penalizar os nossos servidores por causa de uns deputados.

A liminar do STF permitindo a presença dos deputados foi concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski, o mesmo que, há duas semanas, foi flagrado em troca de e-mails dando detalhes de seu voto durante julgamento da denúncia do mensalão. O vice-presidente Tião Viana foi comunicado ainda de madrugada, e decidiu recorrer. Reunidos, os integrantes da Mesa chegaram a cogitar transferir o julgamento para a tarde, para ganhar tempo para cassar a liminar. Mas voltaram atrás.

COLABOROU: Ilimar Franco