Título: Resultado faz analistas projetarem um crescimento maior para o ano
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 13/09/2007, Economia, p. 26

SEGUNDO ATO: Importações estão segurando a inflação, dizem especialistas.

Aposta agora varia de 4,7% a 5,4%. Melhora da agricultura ajudará economia.

Analistas de mercado e economistas começaram a revisar para cima suas projeções de crescimento para 2007, depois da divulgação pelo IBGE dos números do PIB (conjunto de bens e serviços produzidos no país) referentes ao segundo trimestre. As previsões anteriores variavam entre 4,3% e 4,8% e, agora, foram substituídas por apostas de expansão de 4,7% a 5,4%. É consenso que o avanço da economia brasileira continuará a ser movido pelos investimentos e que estes serão impulsionados pela demanda interna e pelo cenário favorável dos juros, ainda que o ritmo de queda da Selic tenda a diminuir.

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) José Ronaldo Souza Júnior considerou os números do IBGE positivos, especialmente o crescimento da indústria. A projeção do instituto para o setor era de alta de 5,9% em relação ao segundo trimestre de 2006, e a expansão foi de 6,8%. Segundo Souza Júnior, isso mostra que os investimentos direcionados à atividade industrial foram fortes e devem se manter.

- A demanda da indústria está aquecida. Mesmo que a Selic não caia mais até o fim do ano, os investimentos tendem a se manter porque o cenário macroeconômico está favorável - afirmou.

O economista sênior para a América Latina da Moody"s, Alfredo Coutino, concorda. Ele enumera quatro razões para os investimentos continuarem sustentando o avanço da economia: política monetária de juros baixos, aumento de massa salarial, condições de crédito favoráveis e estabilidade de preços. Coutino revisou a projeção do PIB para 2007 de 4,5% para 5,4%.

Analistas também aguardam uma melhora da agricultura, uma vez que a perspectiva de queda de produção foi verificada em grãos cuja safra é concentrada no segundo trimestre.

O temor de pressões sobre a inflação por conta da demanda interna aquecida foi afastado pelos economistas. As importações, segundo eles, têm cumprido o papel de freio do indicador. Como boa parte da pauta de importação é de máquinas e equipamentos, as compras externas têm contribuído para regular o preço desses itens no mercado.

Diante desse cenário, a RC Consultores revisou para 4,7% sua projeção de crescimento do país em 2007, ante 4,5% previstos anteriormente. Dos sete analistas ouvidos pelo GLOBO, apenas os do banco Santander e da consultoria LCA mantiveram suas projeções em 4,8% e 4,7%.

Quando o foco é o comportamento da economia em 2008, as divergências começam a aparecer. Há dúvidas sobre a real dimensão da crise das hipotecas de alto risco (subprime) e seu impacto sobre a economia brasileira.

Crise americana pode afetar crescimento em 2008

Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, acredita que a turbulência que atingiu o setor imobiliário americano terá conseqüências para a economia mundial e para o Brasil. Ele avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central será mais cauteloso no corte dos juros daqui para a frente, e isso tende a ter reflexos em 2008.

- Minha estimativa para a Selic no fim de 2008 é de 10%. Antes da crise, trabalhava com 8,5% - diz o economista, que vai revisar para baixo a projeção de crescimento de 5,5% para o PIB de 2008.

Já Coutino, da Moody"s, avalia que respingos da crise do subprime sobre a economia brasileira são pouco prováveis. Ele avalia que, apesar de o risco de recessão da economia americana ter aumentado nos últimos dois meses de 10% para 35%, ele ainda é baixo. Sua projeção para expansão do PIB brasileiro no próximo ano se mantém em 5,2%.