Título: Para Mantega, não há aquecimento exagerado
Autor: Batista, Henrique Gomes e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 13/09/2007, Economia, p. 28

SEGUNDO ATO: Ministro do Trabalho diz que serão divulgados bons números de contratações com carteira em agosto.

Meirelles também afasta risco de inflação. Parlamentares de governo e oposição crêem em crescimento sustentado.

BRASÍLIA e RIO. Os principais integrantes da equipe econômica comemoraram o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, mas tiveram o cuidado de mostrar que a economia brasileira está crescendo de forma sustentada, sem risco de pressão inflacionária. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não há aquecimento exagerado da economia.

- O crescimento do consumo das famílias foi de 5,9% no semestre, um crescimento bom, mas não de forma exagerada. O que afasta a idéia de um superaquecimento da demanda - afirmou. - Minha previsão é que a economia continuará crescendo (no terceiro e no quarto trimestres) no mesmo ritmo de até agora, entre 4,7% e 4,8%, e isso deve se manter até 2008.

Em nota, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, reforçou a tese de crescimento sustentado, garantido pela estabilidade econômica, pelo controle da inflação e pela maior resistência do país a turbulências externas. A recente crise financeira começou apenas no terceiro trimestre.

Segundo Meirelles, pelo lado da demanda, o crescimento tem sido liderado pela expansão dos investimentos e do consumo doméstico. Pela ótica da oferta, disse, "cabe destacar a forte expansão da produção industrial". Já Mantega destacou que o crescimento está sendo sustentando por todos os setores, além do nível de investimentos, o que afasta o risco de inflação:

- Já podemos configurar a existência de um ciclo de crescimento, não se trata de expansão passageira. Já temos o ciclo mais longo de crescimento das últimas décadas, desde os anos 90. Estamos crescendo há 22 trimestres consecutivos.

Resultado do PIB levanta discussão sobre CPMF

Mantega afirmou ainda que as exportações cresceram em ritmo superior ao imaginado. As importações avançaram, disse, mas estão preenchendo um espaço que poderia ser da produção local - de 1,3% do PIB, contra 1,4% em 2006. Ele lembrou que há espaço para crescimento das importações, caso a demanda aumente ainda mais.

Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, dois componentes são especialmente animadores: o crescimento do investimento e a manutenção da expansão do consumo das famílias: - O desempenho com investimento é o que garante a continuidade e a sustentabilidade do crescimento, sem gerar pressões inflacionárias. Mostra que os empresários estão apostando no país.

O ministro, porém, afirmou que o governo está atento.

- Isso tem sido discutido bastante nos últimos tempos porque nos dois últimos meses a inflação aumentou um pouco, principalmente no setor de alimentos. Evidentemente que o governo tem que ficar muito atento a isso.

A previsão do governo hoje é de expansão de 4,7% da economia neste ano.

- Já podemos mexer um pouco para cima. Mas o que acho fundamental é trabalhar para garantir que cresceremos de novo nesse patamar até 2010 - afirmou Bernardo, destacando que para 2007 "o crescimento de 5%, perto de 5%, já pode ser considerado praticamente uma realidade" e que o desafio é que isso se repita nos anos seguintes.

A expectativa do ministro é que o avanço do PIB será ainda maior no terceiro e no quarto trimestres, com a melhora do desempenho de agropecuária e setor automobilístico. Além disso, serão sentidos os efeitos das três quedas consecutivas da taxa básica de juros:

- O BC foi prudente. E, como não vemos repique da inflação, vemos boa trajetória da política monetária. A rentabilidade das empresas tem sido imensa, não tem como não ter ânimo para investir.

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse que o desempenho da economia está levando a seguidos recordes na geração de empregos. Segundo ele, os dados do emprego formal a serem divulgados no fim da semana indicam que o número de contratações com carteira assinada em agosto vai ultrapassar os 129 mil registrados no mesmo período de 2006.

Parlamentares da base aliada e da oposição avaliaram como positivos os resultados. Para eles, é sinal de que o crescimento pode se sustentar na casa dos 5%. O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), vice-líder do governo na Câmara, usou o desempenho para argumentar que é impossível mudar a política econômica, e não seria hora de acabar com a CPMF.

O resultado também foi usado pela oposição para defender o fim da CPMF. O presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), disse que o aquecimento da atividade dá condições para iniciar o processo de redução da carga tributária.

COLABORARAM Geralda Doca e Erica Ribeiro