Título: Vale vai explorar gás natural com a Shell Brasil
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 13/09/2007, Economia, p. 31

Mineradora assina memorando de entendimentos com a petrolífera e deve comprar participação em blocos.

A Companhia Vale do Rio Doce está se tornando uma verdadeira pedra de minério de ferro no sapato da Petrobras. Depois de ter sido a empresa de capital aberto mais lucrativa da América Latina este ano, superando a Petrobras, agora a Vale será concorrente direta da estatal brasileira. A maior produtora de minério de ferro do mundo anunciou ontem que vai entrar na área de exploração de gás natural, para consumo próprio de energia.

A Vale assinou um memorando de entendimentos com a Shell Brasil, para o desenvolvimento conjunto de projetos na exploração de gás, voltados para a geração de energia. Além de analisar a compra de participação em blocos nos quais a Shell tem participação na Bacia do Espírito Santo, a Vale informou seu interesse em participar da nona rodada de licitação de áreas de exploração e produção de petróleo e gás que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) vai realizar em novembro.

O presidente da Shell Brasil, Vasco Dias, afirmou que foi natural a associação das duas empresas globais de energia. Num primeiro momento, as companhias vão estudar a participação da mineradora nos blocos onde a Shell atua na Bacia do Espírito Santo, próximo às unidades industrias da Vale no estado. A Shell participa em 15 blocos no Brasil, dos quais três estão localizados na Bacia do Espírito Santo.

Empresas poderão entrar juntas em leilão da ANP

A petrolífera produz atualmente cerca de 40 mil barris diários de petróleo nos campos de Bijupirá e Salema, na Bacia de Campos. Sem revelar sua estratégia para a nona rodada da ANP, Dias deu a entender que Shell e Vale poderão disputar novos blocos juntas:

- É uma possibilidade interessante em avaliação.

Curiosamente, o presidente da Vale, Roger Agnelli, faz parte do Conselho de Administração da Petrobras, representando a União. Segundo a Vale, quando é discutido algum assunto que possa gerar conflito de interesse entre as duas empresas, Agnelli não vota e também se retira da reunião. No ano passado, a Vale consumiu 17,4 milhões de megawatts/hora (MWh), cerca de 4,3% de todo o gasto no país. A companhia tem usinas hidrelétricas com uma capacidade instalada de 3.109MW, que atendem a 14% de seu consumo total, e agora aposta em termelétricas.

Especialistas consideraram positiva a entrada da Vale na exploração de gás. O consultor Adriano Pires Rodrigues lembrou que a BHP Billiton, a maior mineradora do mundo em valor de mercado, entrou no setor de petróleo e gás para consumo próprio, e hoje essas atividades representam 30% de seu faturamento.

- A energia é fundamental para a expansão das suas atividades, e, com a perspectiva de que vai ficar cada vez mais cara e escassa, é natural buscar geração própria - explicou Pires.

O anúncio não influenciou a cotação das ações preferenciais (sem direito a voto) da Vale, que ontem subiram apenas 0,33%. Segundo Daniella Marques, da Mercatto Gestão de Recursos, a parceria com a Shell é positiva para a mineradora, pois, se o Brasil crescer 4% nos próximos anos, os preços da energia tendem a subir.

- Grande parte das empresas está buscando auto-suficiência em energia para poder ficar fora de um possível racionamento - disse Daniella.

COLABOROU Bruno Rosa