Título: Desconforto para Israel
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Fonte: Correio Braziliense, 29/03/2009, Mundo, p. 18

Do ponto de vista de Israel, a segunda reunião de cúpula América do Sul - Países Árabes (Aspa) consolida uma evolução desfavorável para sua política externa em uma região onde vem colecionando reveses. Quatro anos depois de ter assistido ao Brasil promover e sediar a primeira edição do evento, o Estado judaico colhe frutos do retrocesso das negociações de paz com os palestinos. A miniguerra na Faixa de Gaza, a pretexto de neutralizar disparos de foguetes por parte do movimento extremista Hamas, causou baixas diplomáticas: Venezuela e Bolívia expulsaram os embaixadores israelenses e romperam relações.

Mais sentida, do ponto de vista israelense, foi a progressiva condenação de suas ações militares por parte de Brasil e Argentina, ambos com representativas comunidades judaicas e uma história de neutralidade no conflito do Oriente Médio. No caso brasileiro, o mal-estar ficou evidente nas notas publicadas pelo Itamaraty ¿ de início, condenando as ações militares de ambas as partes e pedindo moderação, para enfim reprovar em tom inusualmente enérgico o que classificou como ¿uso desproporcional da força¿ por Israel.

Desde a primeira reunião da Aspa, em 2005, a diplomacia israelense traçou uma linha de resposta cujo cerne foi definido reservadamente como uma recusa à fórmula da ¿equação fechada¿ ¿ na qual, para aumentar um dos termos da sentença matemática, é preciso deduzir o valor correspondente no termo oposto. Em conversas reservadas com o Correio, representantes de Israel sugeriram desconforto com a sensação de que o Brasil e seus vizinhos estariam preterindo o Estado judeu para ¿ganhar pontos¿ (e mercados) com os árabes. Em resposta, o Itamaraty argumenta que foi justamente com Israel que o Mercosul firmou seu primeiro acordo extrarregional de livre-comércio.

A realização do encontro de Brasília, há quatro anos, motivou queixas públicas da então embaixadora israelense contra o ¿tom¿ dos discursos. Na ocasião, ainda sob impacto da morte de Yasser Arafat, aplausos estrondosos saudaram o novo presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. E a embaixadora foi chamada ao Itamaraty para uma reprimenda.