Título: Destroços
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O Globo, p. 2

É de Lula que a oposição espera agora uma pressão para que Renan Calheiros deixe a presidência do Senado. Tentará conseguir isso bloqueando a votação da CPMF. Com seus 35 votos, pode mesmo evitar que os 46 dados a Renan cheguem aos 49 necessários para aprovar a emenda. É legítima a reação: as pedras estão caindo sobre a cúpula do Senado, sobre todos, não apenas sobre os que bancaram a absolvição. Para uma reconciliação com a sociedade, as duas metades do Senado podiam começar pela supressão de seus anacronismos regimentais, como a sessão secreta, e, juntamente com a Câmara, o próprio voto secreto em cassações.

Mas também isso pressupõe alguma pacificação interna. Com 35 senadores de um lado e 46 do outro, não se votará nada. Renan acenou aos líderes da oposição com uma pauta comum, mas não há clima para isso agora, e ele ainda não entendeu isso. Certo é que, sem o biombo do voto secreto, o resultado seria outro. Ele é que explica, como diz o tucano Sérgio Guerra, a diferença entre o placar de 11 a 4 no Conselho de Ética e o 40 a 35 no plenário. Certamente muitos desses oposicionistas hoje revoltados arrependem-se, secretamente, do voto que deram em 2003 contra a emenda de Tião Viana que acabava com o voto secreto em cassações.

Agora, uma emenda acabando com o voto secreto já foi aprovada em primeiro turno na Câmara. Tião Viana - enquanto não fica claro o que fará Renan - devia conversar com Arlindo Chinaglia sobre isso. Com a segunda votação na Câmara, a emenda iria logo ao Senado, que, ainda levando pedradas, poderia apressar sua aprovação. A mudança no regimento, para acabar com a sessão secreta, num gesto pacificador, o próprio Renan poderia propor e patrocinar. É mais fácil, resolve-se com maioria simples. As duas mudanças, entretanto, só saem se os dois lados quiserem, e ontem a oposição adotava um tom separatista, que conforta mas não resolve. A agenda traçada por PSDB e DEM promete tempos difíceis para o Senado, para Renan e para o governo.

- Nós, os 35, vamos demarcar nosso terreno, somos a banda sadia. Vamos acabar com esta medieval sessão secreta, fazer andar a representação sobre a propriedade (de Renan) oculta de emissoras de rádio e vamos obstruir a votação da CPMF. O Lula não mandou que ele deixasse de presidir aquela sessão do Congresso que votou a LDO? Pois chegará o momento em que ele terá que dizer ao Renan: "Agora caia fora, você está me atrapalhando".

Lula ainda está longe e lacônico sobre o assunto, mas os petistas já começaram a defender a licença de Renan.