Título: Não me sentia seguro para votar sem prova conclusiva
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O País, p. 3

Petista justifica abstenção e defende licença para Renan.

Alvo de críticas da oposição e até mesmo de petistas históricos como Maria Victoria Benevides por ter contribuído, com a a abstenção, para a absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) passou ontem o dia justificando sua posição. Disse que a investigação do Conselho de Ética não foi conclusiva, o que o teria deixado pouco à vontade para votar pela cassação de Renan.

BRASÍLIA

O senhor esperava tantas críticas por ter assumido que se absteve no julgamento do senador Renan Calheiros?

ALOIZIO MERCADANTE: Primeiro eu propus que adiássemos a votação, mas não obtive receptividade. Achava que o processo não estava concluído e que não havia prova conclusiva para a cassação, porque não está comprovado que foi a empreiteira (Mendes Júnior) que pagou as contas pessoais do senador Renan. Não me sentia seguro de votar pela cassação sem uma prova conclusiva, alijando da vida pública por dez anos um senador que teve 80% dos votos de Alagoas. Votar não e arquivar a denúncia sem concluir se houve ou não crime tributário era inconveniente. Por isso, me abstive.

O senhor tentou convencer algum colega a acompanhar seu voto?

MERCADANTE: Jamais pedi a quem quer que seja. Inconcebível é a oposição ter 30 senadores e só terem aparecido 35 votos pela cassação. É evidente que no PMDB houve pelo menos quatro votos pela cassação; no PSB, dois; no PDT, dois; no PT, pelo menos dois; e o PSOL, um. Essa conta daria no mínimo 42 votos. Só teve 35. Então pelo menos sete senadores da oposição não votaram pela cassação.

As abstenções também ajudaram a absolvê-lo...

MERCADANTE: O voto pela abstenção não contribuía para a cassação. Como esse processo está sendo investigado pelo Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal abriu investigação e temos outras três representações, achei que esse era o voto mais correto e compatível com as minhas convicções.

Mas reação da opinião pública à decisão do Senado foi muito ruim, e até mesmo por alguns petistas, como a presidente da Comissão de Ética Pública, Maria Victoria Benevides, que declarou estar enojada com o Senado.

MERCADANTE: Eu tenho um imenso respeito pela Maria Victoria Benevides, e a procurarei pessoalmente, apresentando as razões da minha decisão e explicando o que nós votamos.

O senador Renan tem condições de continuar no comando da Casa?

MERCADANTE: A renúncia é uma decisão daqueles que não querem ou não podem se defender. Foi o que aconteceu com o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF). Mas não foi a decisão do senador Renan. Eu acho a licença a melhor alternativa para ele e para o Senado. Não é uma recomendação do governo, como estão dizendo. O governo jamais me pediu que dissesse isso, mas é a minha sugestão pessoal. Por tudo o que ele passou, pelo que está passando e passará. E para que o Senado possa ter um clima de mais tranqüilidade para dar prosseguimento a votações importantes para o Brasil. (Adriana Vasconcelos)