Título: Planalto e aliados insistem para que presidente do Senado tire férias
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O País, p. 4

DEPOIS DA ABSOLVIÇÃO: Após votação, Renan foi à casa de Roseana Sarney.

Governistas tentam melhorar clima no Senado para prorrogar a CPMF.

BRASÍLIA. Horas depois de ser absolvido, na noite de anteontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebeu um pedido direto do senador José Sarney (PMDB-AP) para que tirasse uns dias de férias para descansar e, ao mesmo tempo, desanuviar o clima no Senado. A conversa ocorreu na casa da líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), e contou com a presença dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA). Ontem, uma outra reunião deste grupo com o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais), no Palácio do Planalto, tratou do mesmo assunto.

- Dar um tempo, neste momento, será benéfico para a Casa (Senado), para os companheiros que o acompanharam nestes dias e para você - disse Sarney, segundo os presentes.

"A minoria que perdeu no voto é que vai ganhar?"

Foi uma conversa franca. Os quatro deixaram claro que a melhor estratégia para Renan seria mesmo sair de cena, para diminuir a tensão no Senado.

- Sugerimos que ele refletisse, fosse descansar e que desse um tempo para aliviar as tensões. O maior interessado seria ele - contou um convidado.

Renan chegou à casa de Roseana demonstrando abatimento. Vinha de um encontro com seu advogado, Eduardo Ferrão. Um dos presentes disse que o clima geral no Senado não era bom, e ressaltou que ele ainda tinha três processos a enfrentar. Por isso, era preciso fazer um gesto para pacificar o Senado. Renan resistiu e, num segundo momento, disse que pensaria. Mas, depois, demonstrou não concordar com as férias.

- Vou pensar. Mas acho que não seria bom para mim sair de férias. Enfraquece a minha posição. Sou inocente - disse. A minoria que perdeu no voto é que vai ganhar? Se ganhei, tenho que estar fora de todo jeito? Que diabo de regra é essa?

Renan lembrou de todo o processo, repetindo que ficou mais de três meses sofrendo bombardeio da mídia.

- Nenhum de nós passou o que passei. Foram sete capas da (revista) "Veja", matérias no "Jornal Nacional" (da TV Globo) todos os dias, além das charges do Chico Caruso (no GLOBO).

Um senador ponderou que todos ali eram seus amigos. Ele foi advertido que era preciso criar um ambiente positivo no Senado para evitar o prosseguimento dos novos processos.

- Se fosse um inimigo que estivesse pedindo para você se afastar, você poderia ficar desconfiado. Mas são os seus amigos que pedem isso! - disse um dos senadores.

"Torço para que tire férias. Ele está muito estressado"

Ao ouvir isso, Renan disse que iria refletir.

No Planalto, num almoço com o ministro Walfrido Mares Guia, os líderes do governo Romero Jucá e Roseana Sarney, além da líder do PT, Ideli Salvatti (SC), voltaram a considerar que seria fundamental um afastamento temporário. Novamente, a avaliação foi de que seria necessário esfriar os ânimos para retomar a pauta de interesse do governo em ambiente mais favorável.

- Foi um conselho (o de Sarney) de bom senso. Tirar férias para recuperar as energias e criar ambiente positivo e pacificar o Senado. Mas só alguém muito íntimo pode pedir uma coisa dessas. Não é da alçada do Executivo - disse Mares Guia.

Segundo ele, Renan ainda sofre processos e essa postura faria bem à Casa e ao país.

- A gente espera que a normalidade volte. É interesse nacional. A CPMF é fundamental. Se não passar, o governo terá de cortar quase R$40 bilhões.

Roseana repetiu a tese:

- Torço para que Renan tire umas férias porque ele está muito estressado.

E foi falar com Renan, acompanhada do pai, José Sarney. Mais uma vez, Renan resistiu.