Título: Renan diz que teve apoio de Lula e nega licença
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O País, p. 5

DEPOIS DA ABSOLVIÇÃO: "Depois de ganhar, ele vai entregar as armas? Ele não vai se afastar coisa nenhuma".

No dia seguinte, presidente do Senado volta à Casa, cumprimenta senadores e diz que não vai se afastar.

BRASÍLIA e PORTO ALEGRE. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem que não pretende se licenciar do mandato, apesar das pressões da oposição e até de aliados. Disse que nem sequer vai tirar alguns dias de férias, como lhe foi sugerido ontem por colegas de partido. Renan avalia que, depois da pressão que enfrentou nos mais de 120 dias que antecederam seu julgamento pelo plenário, considera-se apto para continuar presidindo a Casa e comandar votações, porque foi absolvido pela maioria.

À Rádio Gaúcha, ele contou que, durante o processo, teve a atenção permanente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

- Nós conversamos o tempo todo. O presidente sabia que não havia absolutamente nada contra mim, já que o ônus da prova compete a quem acusa, e me acusaram de tudo sem uma prova.

Segundo Renan, ele não falou com Lula desde a absolvição:

- Não, ainda não (falei com Lula), mas ele falou com algumas pessoas próximas a mim. Vou aguardar que o presidente retorne para termos uma conversa. Ele acompanhou durante todo o tempo esse processo, mas como poder diferente.

Renan reafirmou a disposição de ficar no cargo, na tarde de ontem, quando se reuniu com os senadores José Sarney (PMDB-AP) e a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA). Renan informou que viaja hoje para o Paraná, com a mulher, Verônica, e retorna segunda-feira. Ao chegar ao Senado - antes de mais uma reunião com os Sarney -, repetiu que não se afastaria. Indagado se tiraria férias, disse:

- Não, não estou cansado.

Numa rápida conversa com repórteres, no cafezinho do Senado, evitou cantar vitória, mas não recuou:

- Chego com a humildade que sempre tive na relação com os colegas, tanto que ontem chamei à conciliação. Telefonei a todos os líderes - disse, acrescentando que não se considerava fragilizado. Depois dessa campanha de 110 dias, tivemos uma quebra de cinco votos (referindo-se aos 51 votos que obteve na eleição de fevereiro, em comparação com os 40 votos contra sua cassação e as seis abstenções).

Ao analisar o resultado da sessão e as seis abstenções que o ajudaram, disse:

- Eu próprio votei na abstenção.

Na entrevista à Rádio Gaúcha, ontem, Renan fez essas mesmas contas e disse ser o mais capacitado para comandar o Senado:

- Nós perdemos apenas cinco votos, depois dessa campanha nunca vista no Brasil. Significa dizer que, se eu não tiver condições de presidir o Senado, quem é que vai, num quadro de absoluta divisão?

A disposição de Renan de ficar no cargo, segundo um ministro, não será contestada pelo presidente Lula, embora a maior do parte do governo considere que sua permanência na presidência pode prejudicar votações de interesse do governo, inclusive a prorrogação da CPMF.

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), lembrou que Lula deu declarações favoráveis a Renan e o recebeu publicamente toda vez que o presidente do Senado solicitou. Ela não acredita no afastamento de Renan:

- Estamos todos cansados. Mas, mesmo que os 80 senadores peçam, a prerrogativa de decisão é do presidente do Senado.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), também descartou qualquer afastamento:

- Depois de ganhar, ele vai entregar as armas? Ele não vai se afastar coisa nenhuma. Nem a curto nem a médio prazo. Ele quer reabrir o diálogo, arrumar as coisas e trabalhar.

Aliados de Renan negam que tenha havido acordo prévio com o Planalto sobre um afastamento temporário. Argumentaram que ele fez da presidência do Senado uma trincheira contra a sua cassação e que não iria deixá-la agora, depois de ter vencido, e quando há três processos abertos pedindo sua cassação.

À Rádio Gaúcha, ele afirmou que agora tentará recompor as relações com os partidos:

- É preciso ter muita habilidade para contornar qualquer dificuldade. É essa habilidade que eu pretendo ter juntamente com os líderes partidários, com os presidentes dos partidos, com todos os senadores, para que possamos tocar o dia-a-dia.

Mas, aos poucos amigos que foram a sua casa ontem à noite, Renan mostrou preocupação com o futuro. Wellington Salgado (PMDB-MG) assistiu ao seu lado à partida entre Botafogo e Corinthians, quando ele comemorou a vitória botafoguense.

- Isso não vai parar. O objetivo é a cadeira de presidente. Foi só o primeiro round - desabafou Renan, segundo Salgado.

"Tenho que recompor a relação com a oposição"

Quando o "Jornal Nacional", da TV Globo, mostrou entrevista em que Salgado afirmava que ele deveria se afastar para descansar, Renan reagiu:

- Está louco? Acha que eu vou sair agora? De jeito nenhum! Tenho é que ir lá para dentro, conversar com todo mundo, reunir os líderes, recompor a relação com a oposição.

Ele estava com Verônica, filhos, um amigo e Salgado. Antes, foi à casa de Roseana, onde conversou com Sarney, Edison Lobão (DEM-MA) e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Jantou carne assada com arroz branco. Não comemorou a absolvição, lembrando os demais processos.

- Não tem férias. O homem está ligado! Só pensa naquilo - contou Salgado.

COLABORARAM Maria Lima e Higino Barros