Título: Compromisso e liderança global
Autor: Howells, Kim
Fonte: O Globo, 14/09/2007, Opinião, p. 7

Minha visita ao Brasil, esta semana, tem reforçado em minha mente a importância de uma maior aproximação entre nossos países. Passaram-se 17 anos desde a última vez que tive o privilégio de visitar esta terra extraordinária e grandes mudanças ocorreram nos dois países nesse período.

Desde a eleição do Partido Trabalhista em 1997, temos estado cientes do papel central que nos cabe no sentido de superar os desafios de uma economia internacional que se globaliza rapidamente. Como nação, temos nos esforçado para tornar o mundo um local mais seguro, algumas vezes até de forma polêmica. Compreendemos a necessidade de consolidar antigas parcerias e alianças para criar outras novas e mais abrangentes. Testemunhamos uma revolução na demanda internacional por matérias-primas e tecnologias avançadas à medida que grandes países, como o Brasil, começaram a se firmar em suas posições de direito, na linha de frente da família de nações.

Não é segredo que o Brasil aspira tornar-se um líder global e sabe que essa liderança não se baseia apenas em contingente populacional ou peso econômico. Baseia-se em poder, influência, responsabilidade e, principalmente, em uma disposição para engajar em questões difíceis. Nós, na Grã-Bretanha, também entendemos isso. Existem poucos assuntos mais difíceis que nossa decisão de ajudar o Iraque a desenvolver um Estado efetivo, com instituições capazes de proteger seu povo, após anos de negligência e opressão violenta. Como parte de uma força multinacional comandada pela ONU, temos investido dinheiro e conhecimento de forma sistemática para capacitar o Iraque a governar de forma eficiente. Além disso, temos fornecido milhares de projetos de infra-estrutura: melhores estradas, hospitais e escolas para o povo iraquiano. Sacrificamos nosso bem mais precioso - as vidas de nossos bravos jovens - em prol dessa causa, como também fizemos em outro difícil conflito, o do Afeganistão.

O Reino Unido está fortalecendo e encorajando o governo afegão a assumir a responsabilidade de tratar de assuntos como a corrupção, a qual enfraquece o esforço internacional que tenta ajudar o Afeganistão a se tornar um Estado estável e independente. O mundo não pode permitir que o Afeganistão se torne, mais uma vez, um abrigo para terroristas brutais com o Talibã ou a al-Qaeda, nem um centro para o tráfico de drogas e o financiamento de terroristas.

O povo brasileiro sabe que essas questões são extremamente difíceis. O Brasil tem se mostrado disposto a se envolver em outras de igual importância e complexidade: a luta contra o HIV-Aids na África e na América do Sul; a necessidade de enviar jovens em forças de paz a ambientes perigosos e cheios de conflitos além de suas fronteiras; a busca pela melhor forma de capacitar e reformar para superar o desafio da globalização econômica e, de forma mais urgente, a tomada de decisões dolorosas e criativas para combater a mudança climática.

O Reino Unido admira a determinação do Brasil, mas temos consciência de que nossos países precisam fazer mais, e melhor. Por isso é essencial que cooperemos de forma mais próxima e freqüente. O Brasil possui grande influência dentro do G-20 e do G-77. É uma força trabalhando pelo bem e nossa esperança é que sua nova posição no cenário mundial permita que cresça em seu importante papel de modelo de estabilidade e moderação. A promoção pelo Brasil de uma abordagem política e comercial que enfatiza a importância da justiça social tem valor inestimável. É por isso que a Grã-Bretanha tem desejado tanto que o Brasil se torne membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É por isso, também, que a Grã-Bretanha se colocará ao lado do Brasil, trabalhando com o G-8 e com a OCDE para ajudar a criar um mundo mais seguro, justo, próspero e pacífico.

KIM HOWELLS é ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha.