Título: Lula: decisão dos senadores deve ser acatada
Autor: Berlinck, Deborah e Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O País, p. 9

DEPOIS DA ABSOLVIÇÃO: "Poderia ter sido ou não favorável ao Renan, mas temos de acatar o resultado das instituições".

Na Europa, presidente diz que Senado precisa voltar à normalidade e votar temas como a CPMF e a reforma tributária.

OSLO e COPENHAGEN. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou ontem, em Copenhagen, comentar a decisão do Senado de absolver o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e disse que o resultado da votação deve ser acatado. Pouco antes de discursar na abertura de um seminário para empresários brasileiros e dinamarqueses, Lula disse que é hora de o Senado voltar a funcionar com normalidade e se dedicar a assuntos prioritários:

- O problema começou no Senado e terminou no Senado. Poderia ter sido ou não favorável ao Renan, mas temos de acatar o resultado das instituições às quais nos submetemos, e é inadmissível que só se possa acatar o resultado que favorece aquilo que alguém pensava. Para um presidente da República, o que interessa é que o Senado volte a funcionar com normalidade, porque temos coisas muito importantes para votar, como a CPMF e a reforma tributária.

Presidente evita comentar atuação da bancada do PT

A resposta de Lula foi a uma pergunta sobre sua avaliação em relação ao comportamento da bancada do PT na sessão de anteontem no Senado. Um dos integrantes da bancada - Aloizio Mercadante (SP) - admitiu que se absteve.

À tarde, ao chegar a Oslo, o presidente participou de um jantar oferecido pelo rei Harald V. Seu compromisso mais importante será o almoço de hoje com empresários. Ele também participará de um outro seminário bilateral.

Na capital da Noruega, a absolvição de Renan não deixou indiferente a pequena comunidade brasileira no país. Ontem, enquanto um grupo de brasileiros saudava Lula na sua chegada ao Palácio Real, com gritos de "Olê, olê, olê, olá!", surgiu uma folha de papel na qual se lia de um lado: "O Senado é uma piada". E do outro lado : "A base da política é corrupta", seguida da assinatura: "Os da Silva".

A dona-de-casa paulista Josilene da Silva, há quatro anos em Oslo, e Edson José de Paula Santos, há 22 anos na cidade, seguravam a folha. O discreto protesto se perdeu no meio de gritos eufóricos de outros brasileiros. Lula nem sequer notou.

- Estou tão indignada. Estamos protestando contra a absolvição do Renan. Assim não dá! - queixou-se Josilene.

Bem-humorado, o presidente pegou várias crianças no colo e distribuiu beijos. O enfermeiro paulista Roger Souza, há um ano e meio em Oslo, cobrou de Lula a legalização no Brasil da união civil dos homosexuais.

- Tem que aprovar no Congresso, presidente - disse Souza.

- Mas vai aprovar, vai aprovar - respondeu Lula.

Enquanto isso, um norueguês vestido de Chacrinha disputava a atenção do presidente tocando "Cidade Maravilhosa" numa corneta. Do outro lado da rua, havia grupo do Movimento dos Sem-Terra, com camisetas do MST, bandeiras e bonés vermelhos. Lula encerrou o dia em jantar no Palácio Real. Ele se despede hoje da Noruega com programação que inclui encontro com o primeiro-ministro, Jens Stoltenberg, e o presidente do Parlamento, Thorbjorn Jagland. Na agenda, temas como energia, mudança do clima, comércio, investimento e turismo.