Título: Para senadores, espírito de corpo prevaleceu
Autor: Vasconcelos, Adriana e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 14/09/2007, O País, p. 10

"Nada que fizéssemos daria certo ontem. Já estava tudo acordado".

BRASÍLIA. O dia seguinte da derrota dos que defendiam a cassação do mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi de muita discussão para tentar mapear eventuais erros de estratégia e entender o resultado. A maioria concordou, porém, que, por mais que tentassem, não conseguiriam barrar a articulação do governo com o PT e PMDB para enterrar o relatório de Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES). Muitos foram à tribuna perguntar: o que aconteceu entre a aprovação da cassação por 11 votos a 4 no Conselho de Ética e a absolvição com 40 votos favoráveis e seis abstenções?

Alguns erros foram apontados, as seis abstenções foram consideradas a grande surpresa, mas a resposta quase unânime foi:

- O maior erro foi não conseguirmos derrubar o espírito de corpo, a mão do governo, via PT, virando votos, e a falta de sintonia da Casa com a sociedade - avaliou o relator Renato Casagrande.

Para senadores, presença de Heloísa beneficiou Renan

A presença da presidente do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena, na tribuna, e seu confronto com Renan foram apontados pelo líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN), como um elemento aglutinador dos que ainda estavam em dúvida sobre como votar.

- Nada que fizéssemos daria certo ontem. Já estava tudo acordado antes. Mas a Heloísa Helena fez o PT se juntar. Ficou mais fácil a articulação do Mercadante e da Ideli - disse Agripino.

Para o senador César Borges (DEM-BA), a absolvição é resultado da bem articulada negociação do governo com o PT e PMDB para manter o comando da Casa. E que o erro dos que defendiam a cassação foi não considerar a hipótese das abstenções.

- Foi uma vitória do governo. Foi uma idéia brilhante a da costura das abstenções. Ninguém esperava por isso . Nossa contagem era voto sim ou não - observou César Borges.

Governo articulou bem para salvar aliado

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) não considera que houve erros, mas uma bem sucedida ação do governo para salvar Renan e desgastar o Senado.

- Houve ação direta do governo para manter o Senado sangrando, para manter a crise aqui e deixar no esquecimento os mensaleiros. A Ideli ficou três horas em cima do Flávio Arns (PT-PR) para tentar virar seu voto - contou o senador Álvaro Dias. (Maria Lima)